A obediência de fé da Virgem Maria nos ajuda a viver bem o Natal do Menino Jesus e a expectativa da Sua vinda gloriosa.
A Santíssima Virgem Maria acolheu com humildade e obediência de fé a Encarnação do Verbo, o nascimento de Jesus Cristo, Deus feito homem. No caminho do Advento, a Virgem de Nazaré ocupa um lugar especial, como Aquela que de maneira singular esperou a realização das promessas de Deus e acolheu na fé e na carne Jesus, o Filho do Altíssimo, em plena obediência à Sua vontade1. Nossa Senhora abriu-se inteiramente à vontade de Deus, por isso nela se cumpriram as promessas de Deus para o seu Povo2. Entretanto, a Mãe de Deus viveu não somente a alegria da Anunciação, mas também momentos de incerteza e de obscuridade3. Como muitos de nós, Nossa Senhora também passou pelo “vale escuro”4, pela noite escura da fé. Por isso, a Mãe de Deus compadece-se de nós e se faz nossa
companheira e guia no caminho da fé, que consiste em acolher Jesus Cristo e a Sua vontade em nossas vidas.
No mistério da Anunciação, o arcanjo Gabriel se dirige a Maria: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo!”5. A palavra “ave”, do grego “chaîre”, parece uma saudação normal, mas no contexto da tradição bíblica, adquire um significado muito mais profundo. O mesmo termo aparece quatro vezes na versão grega do Antigo Testamento, sempre como anúncio da alegria pela vinda do Messias6. Por isso, “a saudação do anjo a Maria constitui um convite à alegria, a um júbilo profundo, anuncia o fim da tristeza que existe no mundo, diante do limite da vida, do sofrimento, da morte, da maldade e da obscuridade do mal que parece ofuscar a luz da bondade divina”7.
A Virgem Maria é convidada a alegrar-se porque foi visitada por Deus: “o Senhor está contigo”. Esta expressão nos remete ao Livro de Sofonias: “Alegra-te, filha de Sião […] O rei de Israel, que é o Senhor, está no meio de ti […] O Senhor teu Deus está no meio de ti como Salvador poderoso”8. Nestas palavras do Profeta há duas promessas feitas a Israel, à filha de Sião: “Deus virá como Salvador e fará a sua morada precisamente no meio do seu povo, no ventre da filha de Sião. No diálogo entre o anjo e Maria realiza-se exatamente esta promessa: Maria é identificada com o povo desposado por Deus, é verdadeiramente a Filha de Sião em pessoa; é nela que se cumpre a expectativa da vinda definitiva de Deus, é nela que o Deus vivo faz a sua morada”9.
Na saudação do Arcanjo Gabriel, Maria de Nazaré é chamada cheia de “graça”, que em grego “charis”, tem a mesma raiz linguística da palavra “alegria”. Nesta expressão, esclarece-se o motivo do alegrar-se da Mãe de Jesus: o júbilo provém da graça, da comunhão com Deus, do fato de manter um vínculo tão vital com Ele, a ponto de ser morada do Espírito Santo, totalmente plasmada pela obra de Deus. “Maria é a criatura que de modo singular abriu totalmente a porta ao seu Criador, colocando-se nas suas mãos sem quaisquer limites. Ela vive inteiramente da e na relação com o Senhor; põe-se em atitude de escuta, atenta a captar os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida numa história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o tecido da sua existência. E submete-se de maneira livre à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé”10. Como o grande patriarca Abraão, o pai dos crentes, que respondeu ao chamado de Deus para sair da terra em que vivia, das suas seguranças, para começar a percorrer o caminho rumo a uma terra desconhecida11, a Virgem Maria entrega-se com plena confiança à palavra que lhe anuncia o Anjo, tornando-se modelo e mãe de todos os crentes.
A abertura da alma a Deus e à sua obra na fé inclui também o elemento da obscuridade e, como muitos de nós, a Mãe do Menino Jesus não foi poupada da noite escura da fé. Pois, a nossa relação com Deus não cancela a distância entre Criador e criatura, não elimina aquilo que o apóstolo Paulo afirma perante as profundezas da sabedoria de Deus: “Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos!”12. Entretanto, se como Maria estamos abertos de modo total a Deus, conseguimos aceitar a vontade divina, ainda que esta seja misteriosa, embora muitas vezes não corresponda à nossa própria vontade e seja uma espada que nos transpassa a alma, como profeticamente o velho Simeão disse a Maria Santíssima no momento em que Jesus é apresentado no Templo13. O caminho de fé de Abraão, semelhante ao de Maria, tem o momento de alegria pelo dom do filho Isaac14, mas também o momento da obscuridade, quando o Senhor lhe pediu para subir ao monte Moriá para cumprir um gesto paradoxal. Deus pede-lhe que sacrifique o seu único filho15, que lhe fora dado já em idade avançada. No monte, o Anjo do Senhor ordena-lhe: “Não estendas a tua mão sobre o menino, e não lhe faças nada; agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho”16. A confiança plena de Abraão na fidelidade de Deus às suas promessas não o deixa esmorecer nem mesmo quando a sua palavra é misteriosa e difícil, quase impossível, de aceitar. A mesma experiência vive Maria, pois a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa também através da obscuridade da crucifixão do seu Filho17, para poder chegar até à luz da Ressurreição.
O caminho de fé de Abraão e de Maria não é diferente do nosso. Por vezes, encontramos momentos de luz em nossas vidas, mas vivemos também outros nos quais Deus parece ausente, o seu silêncio pesa no nosso coração e a sua vontade não corresponde à nossa. Mas, “quanto mais nos abrirmos a Deus, acolhermos o dom da fé, depositarmos totalmente nele a nossa confiança — como Abraão e como Maria — tanto mais Ele nos torna capazes, mediante a sua presença de viver cada situação da vida na paz e na certeza da sua fidelidade e do seu amor. No entanto, isto significa sair de nós mesmos e dos nossos projetos, a fim de que a Palavra de Deus seja a lâmpada orientadora dos nossos pensamentos e das nossas ações”18.
Assim, na solenidade do Natal do Senhor, somos convidados a viver a mesma humildade e obediência de fé da Virgem Maria. Pois, “a glória de Deus não se manifesta no triunfo e no poder de um rei, não resplandece numa cidade famosa, num palácio luxuoso, mas faz a sua morada no ventre de uma virgem, revela-se na pobreza de um Menino. A onipotência de Deus, também na nossa vida, age com a força, muitas vezes silenciosa, da verdade e do amor. Então, a fé diz-nos que no final o poder indefeso daquele Menino vence o ruído das potências do mundo”19. Peçamos a Deus a mesma humildade e obediência da fé de Maria e José, para que vejamos, na fragilidade do Menino Jesus, a Sua vitória final sobre todos os poderes das trevas, na sua segunda e definitiva vinda ao mundo. Por fim, desejamos um santo e feliz Natal de Jesus em seu coração e na sua família. Jesus, Maria e José, rogai por nós!
Referências:
1 Cf. Lc 1, 38.
2 Cf. Lc 1, 55.
3 Cf. Lc 1, 34; 2, 34-35; 2, 49-50.
4 Sl 22, 4.
5 Lc 1, 28.
6 Cf. Sf 3, 14; Jl 2, 21; Zc 9, 9; Lm 4, 21.
7 PAPA BENTO XVI. Audiência geral de 19 de Dezembro de 2012.
8 Sf 3, 14-17.
9 PAPA BENTO XVI. Audiência geral de 19 de Dezembro de 2012.
10 Idem.
11 Cf. Gn 12, 1.
12 Rm 11, 33.
13 Cf. Lc 2, 35.
14 Cf. Gn 17, 19.
15 Cf. Gn 22, 2.
16 Gn 22, 12.
17 Cf. Jo 19, 25.
18 PAPA BENTO XVI. Audiência geral de 19 de Dezembro de 2012.
19 Idem.
companheira e guia no caminho da fé, que consiste em acolher Jesus Cristo e a Sua vontade em nossas vidas.
No mistério da Anunciação, o arcanjo Gabriel se dirige a Maria: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo!”5. A palavra “ave”, do grego “chaîre”, parece uma saudação normal, mas no contexto da tradição bíblica, adquire um significado muito mais profundo. O mesmo termo aparece quatro vezes na versão grega do Antigo Testamento, sempre como anúncio da alegria pela vinda do Messias6. Por isso, “a saudação do anjo a Maria constitui um convite à alegria, a um júbilo profundo, anuncia o fim da tristeza que existe no mundo, diante do limite da vida, do sofrimento, da morte, da maldade e da obscuridade do mal que parece ofuscar a luz da bondade divina”7.
A Virgem Maria é convidada a alegrar-se porque foi visitada por Deus: “o Senhor está contigo”. Esta expressão nos remete ao Livro de Sofonias: “Alegra-te, filha de Sião […] O rei de Israel, que é o Senhor, está no meio de ti […] O Senhor teu Deus está no meio de ti como Salvador poderoso”8. Nestas palavras do Profeta há duas promessas feitas a Israel, à filha de Sião: “Deus virá como Salvador e fará a sua morada precisamente no meio do seu povo, no ventre da filha de Sião. No diálogo entre o anjo e Maria realiza-se exatamente esta promessa: Maria é identificada com o povo desposado por Deus, é verdadeiramente a Filha de Sião em pessoa; é nela que se cumpre a expectativa da vinda definitiva de Deus, é nela que o Deus vivo faz a sua morada”9.
Na saudação do Arcanjo Gabriel, Maria de Nazaré é chamada cheia de “graça”, que em grego “charis”, tem a mesma raiz linguística da palavra “alegria”. Nesta expressão, esclarece-se o motivo do alegrar-se da Mãe de Jesus: o júbilo provém da graça, da comunhão com Deus, do fato de manter um vínculo tão vital com Ele, a ponto de ser morada do Espírito Santo, totalmente plasmada pela obra de Deus. “Maria é a criatura que de modo singular abriu totalmente a porta ao seu Criador, colocando-se nas suas mãos sem quaisquer limites. Ela vive inteiramente da e na relação com o Senhor; põe-se em atitude de escuta, atenta a captar os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida numa história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o tecido da sua existência. E submete-se de maneira livre à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé”10. Como o grande patriarca Abraão, o pai dos crentes, que respondeu ao chamado de Deus para sair da terra em que vivia, das suas seguranças, para começar a percorrer o caminho rumo a uma terra desconhecida11, a Virgem Maria entrega-se com plena confiança à palavra que lhe anuncia o Anjo, tornando-se modelo e mãe de todos os crentes.
A abertura da alma a Deus e à sua obra na fé inclui também o elemento da obscuridade e, como muitos de nós, a Mãe do Menino Jesus não foi poupada da noite escura da fé. Pois, a nossa relação com Deus não cancela a distância entre Criador e criatura, não elimina aquilo que o apóstolo Paulo afirma perante as profundezas da sabedoria de Deus: “Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos!”12. Entretanto, se como Maria estamos abertos de modo total a Deus, conseguimos aceitar a vontade divina, ainda que esta seja misteriosa, embora muitas vezes não corresponda à nossa própria vontade e seja uma espada que nos transpassa a alma, como profeticamente o velho Simeão disse a Maria Santíssima no momento em que Jesus é apresentado no Templo13. O caminho de fé de Abraão, semelhante ao de Maria, tem o momento de alegria pelo dom do filho Isaac14, mas também o momento da obscuridade, quando o Senhor lhe pediu para subir ao monte Moriá para cumprir um gesto paradoxal. Deus pede-lhe que sacrifique o seu único filho15, que lhe fora dado já em idade avançada. No monte, o Anjo do Senhor ordena-lhe: “Não estendas a tua mão sobre o menino, e não lhe faças nada; agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho”16. A confiança plena de Abraão na fidelidade de Deus às suas promessas não o deixa esmorecer nem mesmo quando a sua palavra é misteriosa e difícil, quase impossível, de aceitar. A mesma experiência vive Maria, pois a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa também através da obscuridade da crucifixão do seu Filho17, para poder chegar até à luz da Ressurreição.
O caminho de fé de Abraão e de Maria não é diferente do nosso. Por vezes, encontramos momentos de luz em nossas vidas, mas vivemos também outros nos quais Deus parece ausente, o seu silêncio pesa no nosso coração e a sua vontade não corresponde à nossa. Mas, “quanto mais nos abrirmos a Deus, acolhermos o dom da fé, depositarmos totalmente nele a nossa confiança — como Abraão e como Maria — tanto mais Ele nos torna capazes, mediante a sua presença de viver cada situação da vida na paz e na certeza da sua fidelidade e do seu amor. No entanto, isto significa sair de nós mesmos e dos nossos projetos, a fim de que a Palavra de Deus seja a lâmpada orientadora dos nossos pensamentos e das nossas ações”18.
Assim, na solenidade do Natal do Senhor, somos convidados a viver a mesma humildade e obediência de fé da Virgem Maria. Pois, “a glória de Deus não se manifesta no triunfo e no poder de um rei, não resplandece numa cidade famosa, num palácio luxuoso, mas faz a sua morada no ventre de uma virgem, revela-se na pobreza de um Menino. A onipotência de Deus, também na nossa vida, age com a força, muitas vezes silenciosa, da verdade e do amor. Então, a fé diz-nos que no final o poder indefeso daquele Menino vence o ruído das potências do mundo”19. Peçamos a Deus a mesma humildade e obediência da fé de Maria e José, para que vejamos, na fragilidade do Menino Jesus, a Sua vitória final sobre todos os poderes das trevas, na sua segunda e definitiva vinda ao mundo. Por fim, desejamos um santo e feliz Natal de Jesus em seu coração e na sua família. Jesus, Maria e José, rogai por nós!
Referências:
1 Cf. Lc 1, 38.
2 Cf. Lc 1, 55.
3 Cf. Lc 1, 34; 2, 34-35; 2, 49-50.
4 Sl 22, 4.
5 Lc 1, 28.
6 Cf. Sf 3, 14; Jl 2, 21; Zc 9, 9; Lm 4, 21.
7 PAPA BENTO XVI. Audiência geral de 19 de Dezembro de 2012.
8 Sf 3, 14-17.
9 PAPA BENTO XVI. Audiência geral de 19 de Dezembro de 2012.
10 Idem.
11 Cf. Gn 12, 1.
12 Rm 11, 33.
13 Cf. Lc 2, 35.
14 Cf. Gn 17, 19.
15 Cf. Gn 22, 2.
16 Gn 22, 12.
17 Cf. Jo 19, 25.
18 PAPA BENTO XVI. Audiência geral de 19 de Dezembro de 2012.
19 Idem.