domingo, 5 de outubro de 2014

No Círio de Nazaré, o Menino tem o mundo nas mãos!

O Círio de Nazaré se expressa em diversos sinais externos, todos eles ricos em mensagens, com os quais a Igreja continua a evangelizar.
Nossa cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará recebe peregrinos de tantas partes, começando de nossas casas, para o Círio de Nazaré. Celebramos a grandeza imensa do amor de Deus, refletido na simplicidade desconcertante da Virgem de Nazaré, Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa Mãe, escolhida e preparada pelo Pai do Céu. Maria acolheu o chamado que lhe foi feito através da mensagem do Anjo Gabriel (Cf. Lc 1, 26-38) e deu sua resposta, com a qual a história do mundo foi mudada, para ser aventura de salvação e de graça. E todas as gerações a proclamam feliz, bendita, bem-aventurada (Cf. Lc 1, 48). Mais uma vez cumprimos a profecia pronunciada na casa de Isabel e Zacarias, pois é Círio outra vez.
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O Círio de Nazaré se expressa em diversos sinais externos, todos eles ricos em mensagens, com os quais a Igreja continua a evangelizar. Um deles, certamente o ícone mais expressivo, é a imagem encontrada pelo Caboclo Plácido. Pequenina e tão imensa, acolhe as multidões que acorrem devotamente à Basílica de Nazaré. Nela ou na imagem peregrina que é conduzida por tantos lugares, nas milhares de visitas evangelizadoras do Círio, há detalhes carregados de sentido. O artista que fez a imagem mostrou a Virgem Maria com o Menino Jesus em seus braços, corpo à vista de todos, criança envolvida pela mão carinhosa de uma mãe. Poucas vestes para que a dignidade do corpo assumido na Encarnação do Verbo ficasse à vista de todos, a fim de que tudo de humano venha a ser reconhecido e valorizado. E ele tem o mundo em suas mãos!
Pequeno o Menino, mas o mundo está em suas mãos! Encantadora desproporção, tão grande que já traz a coroa daquele que é o Rei do Universo, Rei sobre a Cruz e sobre a história do mundo e dos homens. São Paulo põe em nossa boca um magnífico hino, com o qual contemplamos o Menino do colo da Virgem de Nazaré, depois crescido, morto e ressuscitado: “Com alegria, dai graças ao Pai que vos tornou dignos de participar da herança dos santos, na luz. Foi ele que nos livrou do poder das trevas, transferindo-nos para o reino do seu Filho amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois é nele que foram criadas todas as coisas, no céu e na terra, os seres visíveis e os invisíveis, tronos, dominações, principados, potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas e nele todas as coisas têm consistência. Ele é a Cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio, Primogênito dentre os mortos, de sorte que em tudo tem a primazia. Pois Deus quis fazer habitar nele toda a plenitude e, por ele, reconciliar consigo todos os seres, tanto na terra como no céu, estabelecendo a paz, por meio dele, por seu sangue derramado na cruz” (Cl 1, 12-20). O mundo está em suas mãos!
O Menino da Virgem de Nazaré, com o mundo nas mãos, quer evangelizar-nos de novo durante este Círio! A vida pulsa nas mãos de Nossa Senhora. Contemplamos a maravilha da vida pensada por Deus para todos os seus filhos e filhas, de todas as gerações. Sejam expostas com respeito e recato a vida e a dignidade humanas, apelando às consciências para que nenhum sopro de vida seja apagado pelo egoísmo. Que pulsem vibrantes os corações, do ventre das mães e até que naturalmente o ventre da terra acolha todos os que vieram a este mundo, como fruto do amor infinito de Deus, para o qual tudo existe e tem vida. Brilhem com ele os rostos das crianças, seu olhar inquieto e provocante. Acenda-se a esperança com a tocha vibrante dos adolescentes e jovens. As famílias façam palpitar o amor à vida, olhando para a Casa de Nazaré. Os homens e mulheres de mais idade transbordem sabedoria para as outras gerações. E que nenhuma vida seja ceifada pela maldade humana, mas venha a florescer e frutificar até seu ocaso natural.
E Jesus Menino tem o mundo nas mãos! Parece incrível que alguém tão pequeno possa carregá-lo! O mundo é pesado? É que estamos acostumados a ver tudo com normas de pesos e medidas! Falta-nos a poesia para brincar com o mundo, olhando-o como obra prima de Deus. Vendo-o do lado de quem o criou, podemos enxergar o conjunto, sem pretender dividi-lo através dos muitos conflitos que inventamos. Sim, Deus fez o mundo para ser visto com a harmonia do azul com que os viajantes do espaço podem contemplá-lo e que nos permitem ver outras cores. O vermelho do amor ou o dourado da realeza, presentes nas vestes de Nossa Senhora de Nazaré, dizem tudo com simplicidade, atraindo os olhares que foram feitos por Deus para verem a beleza com que pensou todas as coisas. Lá do alto e de dentro das mãos do Menino Jesus o mundo é unido, uma só família, na qual as diferenças são presentes a serem distribuídos generosamente pelas pessoas que se doam no amor mútuo.
Este Menino é Deus verdadeiro. De fato, “no princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único, cheio de graça e de verdade. De sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça. Ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer” (Jo 1, 1.14.16.18). Olhar com fé para o Menino que tem o mundo nas mãos é buscar de novo o plano de Deus para nossa geração. Deus criou o mundo como Pai que ama infinitamente. Filhos que somos, recebemos graça sobre graça e haveremos de viver segundo a sua vontade. Quer de todos nós irmãos e irmãs verdadeiros, dispostos a mudar esta terra, envolvendo-a com laços e cordas de amor, para construir a felicidade de todos. E o Menino tem o mundo nas mãos!
“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3, 16-17). O Círio nos faça olhar o mundo de forma diferente, com mais otimismo e alegria. Com a graça do Círio, não precisaremos ser contra ninguém, mas a favor do que Deus quer para todos, a paz e a felicidade. E o Menino, com o mundo nas mãos, diz a todos, com um sorriso maroto nos lábios: “Feliz Círio”!

Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

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