segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O Natal de Jesus e a obediência de fé de Maria

A obediência de fé da Virgem Maria nos ajuda a viver bem o Natal do Menino Jesus e a expectativa da Sua vinda gloriosa.
O Natal de Jesus e a obediência de fé de Maria
O Natal do Menino Jesus
A Santíssima Virgem Maria acolheu com humildade e obediência de fé a Encarnação do Verbo, o nascimento de Jesus Cristo, Deus feito homem. No caminho do Advento, a Virgem de Nazaré ocupa um lugar especial, como Aquela que de maneira singular esperou a realização das promessas de Deus e acolheu na fé e na carne Jesus, o Filho do Altíssimo, em plena obediência à Sua vontade1. Nossa Senhora abriu-se inteiramente à vontade de Deus, por isso nela se cumpriram as promessas de Deus para o seu Povo2. Entretanto, a Mãe de Deus viveu não somente a alegria da Anunciação, mas também momentos de incerteza e de obscuridade3. Como muitos de nós, Nossa Senhora também passou pelo “vale escuro”4, pela noite escura da fé. Por isso, a Mãe de Deus compadece-se de nós e se faz nossa

companheira e guia no caminho da fé, que consiste em acolher Jesus Cristo e a Sua vontade em nossas vidas.

No mistério da Anunciação, o arcanjo Gabriel se dirige a Maria: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo!”5. A palavra “ave”, do grego “chaîre”, parece uma saudação normal, mas no contexto da tradição bíblica, adquire um significado muito mais profundo. O mesmo termo aparece quatro vezes na versão grega do Antigo Testamento, sempre como anúncio da alegria pela vinda do Messias6. Por isso, “a saudação do anjo a Maria constitui um convite à alegria, a um júbilo profundo, anuncia o fim da tristeza que existe no mundo, diante do limite da vida, do sofrimento, da morte, da maldade e da obscuridade do mal que parece ofuscar a luz da bondade divina”7.

A Virgem Maria é convidada a alegrar-se porque foi visitada por Deus: “o Senhor está contigo”. Esta expressão nos remete ao Livro de Sofonias: “Alegra-te, filha de Sião […] O rei de Israel, que é o Senhor, está no meio de ti […] O Senhor teu Deus está no meio de ti como Salvador poderoso”8. Nestas palavras do Profeta há duas promessas feitas a Israel, à filha de Sião: “Deus virá como Salvador e fará a sua morada precisamente no meio do seu povo, no ventre da filha de Sião. No diálogo entre o anjo e Maria realiza-se exatamente esta promessa: Maria é identificada com o povo desposado por Deus, é verdadeiramente a Filha de Sião em pessoa; é nela que se cumpre a expectativa da vinda definitiva de Deus, é nela que o Deus vivo faz a sua morada”9.

Na saudação do Arcanjo Gabriel, Maria de Nazaré é chamada cheia de “graça”, que em grego “charis”, tem a mesma raiz linguística da palavra “alegria”. Nesta expressão, esclarece-se o motivo do alegrar-se da Mãe de Jesus: o júbilo provém da graça, da comunhão com Deus, do fato de manter um vínculo tão vital com Ele, a ponto de ser morada do Espírito Santo, totalmente plasmada pela obra de Deus. “Maria é a criatura que de modo singular abriu totalmente a porta ao seu Criador, colocando-se nas suas mãos sem quaisquer limites. Ela vive inteiramente da e na relação com o Senhor; põe-se em atitude de escuta, atenta a captar os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida numa história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o tecido da sua existência. E submete-se de maneira livre à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé”10. Como o grande patriarca Abraão, o pai dos crentes, que respondeu ao chamado de Deus para sair da terra em que vivia, das suas seguranças, para começar a percorrer o caminho rumo a uma terra desconhecida11, a Virgem Maria entrega-se com plena confiança à palavra que lhe anuncia o Anjo, tornando-se modelo e mãe de todos os crentes.

A abertura da alma a Deus e à sua obra na fé inclui também o elemento da obscuridade e, como muitos de nós, a Mãe do Menino Jesus não foi poupada da noite escura da fé. Pois, a nossa relação com Deus não cancela a distância entre Criador e criatura, não elimina aquilo que o apóstolo Paulo afirma perante as profundezas da sabedoria de Deus: “Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos!”12. Entretanto, se como Maria estamos abertos de modo total a Deus, conseguimos aceitar a vontade divina, ainda que esta seja misteriosa, embora muitas vezes não corresponda à nossa própria vontade e seja uma espada que nos transpassa a alma, como profeticamente o velho Simeão disse a Maria Santíssima no momento em que Jesus é apresentado no Templo13. O caminho de fé de Abraão, semelhante ao de Maria, tem o momento de alegria pelo dom do filho Isaac14, mas também o momento da obscuridade, quando o Senhor lhe pediu para subir ao monte Moriá para cumprir um gesto paradoxal. Deus pede-lhe que sacrifique o seu único filho15, que lhe fora dado já em idade avançada. No monte, o Anjo do Senhor ordena-lhe: “Não estendas a tua mão sobre o menino, e não lhe faças nada; agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho”16. A confiança plena de Abraão na fidelidade de Deus às suas promessas não o deixa esmorecer nem mesmo quando a sua palavra é misteriosa e difícil, quase impossível, de aceitar. A mesma experiência vive Maria, pois a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa também através da obscuridade da crucifixão do seu Filho17, para poder chegar até à luz da Ressurreição.

O caminho de fé de Abraão e de Maria não é diferente do nosso. Por vezes, encontramos momentos de luz em nossas vidas, mas vivemos também outros nos quais Deus parece ausente, o seu silêncio pesa no nosso coração e a sua vontade não corresponde à nossa. Mas, “quanto mais nos abrirmos a Deus, acolhermos o dom da fé, depositarmos totalmente nele a nossa confiança — como Abraão e como Maria — tanto mais Ele nos torna capazes, mediante a sua presença de viver cada situação da vida na paz e na certeza da sua fidelidade e do seu amor. No entanto, isto significa sair de nós mesmos e dos nossos projetos, a fim de que a Palavra de Deus seja a lâmpada orientadora dos nossos pensamentos e das nossas ações”18.

Assim, na solenidade do Natal do Senhor, somos convidados a viver a mesma humildade e obediência de fé da Virgem Maria. Pois, “a glória de Deus não se manifesta no triunfo e no poder de um rei, não resplandece numa cidade famosa, num palácio luxuoso, mas faz a sua morada no ventre de uma virgem, revela-se na pobreza de um Menino. A onipotência de Deus, também na nossa vida, age com a força, muitas vezes silenciosa, da verdade e do amor. Então, a fé diz-nos que no final o poder indefeso daquele Menino vence o ruído das potências do mundo”19. Peçamos a Deus a mesma humildade e obediência da fé de Maria e José, para que vejamos, na fragilidade do Menino Jesus, a Sua vitória final sobre todos os poderes das trevas, na sua segunda e definitiva vinda ao mundo. Por fim, desejamos um santo e feliz Natal de Jesus em seu coração e na sua família. Jesus, Maria e José, rogai por nós!

Referências:


1 Cf. Lc 1, 38.
2 Cf. Lc 1, 55.
3 Cf. Lc 1, 34; 2, 34-35; 2, 49-50.
4 Sl 22, 4.
5 Lc 1, 28.
6 Cf. Sf 3, 14; Jl 2, 21; Zc 9, 9; Lm 4, 21.
7 PAPA BENTO XVI. Audiência geral de 19 de Dezembro de 2012.
8 Sf 3, 14-17.
9 PAPA BENTO XVI. Audiência geral de 19 de Dezembro de 2012.
10 Idem.
11 Cf. Gn 12, 1.
12 Rm 11, 33.
13 Cf. Lc 2, 35.
14 Cf. Gn 17, 19.
15 Cf. Gn 22, 2.
16 Gn 22, 12.
17 Cf. Jo 19, 25.
18 PAPA BENTO XVI. Audiência geral de 19 de Dezembro de 2012.
19 Idem.

Natalino Ueda é brasileiro, católico, missionário da Comunidade Canção Nova, formado em Filosofia e Teologia. Atualmente é produtor de conteúdo do portal cancaonova.com. Na consagração a Virgem Maria, segundo o Tratado de São Luís Maria, descobriu um caminho fácil, rápido, perfeito e seguro para chegar a Jesus Cristo. Desde então, ensina esta devoção, o caminho "a Jesus por Maria", que é o seu maior apostolado.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

As lições da Sagrada Família


A família é uma realidade sagrada

O Papa João Paulo II, na Carta às Famílias, chamou a família de “Santuário da vida” (CF, 11). Santuário quer dizer “lugar sagrado”. É ali que a vida humana surge como que de uma nascente sagrada, e é cultivada e formada. É missão sagrada da família: guardar, revelar e comunicar ao mundo o amor e a vida.

O Concílio Vaticano II já a tinha chamado de “a Igreja doméstica” (LG, 11) na qual Deus reside, é reconhecido, amado, adorado e servido; nele também foi ensinado que: “A salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS, 47).

Jesus habita com a família cristã. A presença do Senhor nas Bodas de Caná da Galiléia significa que o Senhor “quer estar no meio da família”, ajudando-a a vencer todos os seus desafios; e Nossa Senhora ali o acompanha com a sua materna intercessão.

Desde que Deus desejou criar o homem e a mulher “à sua imagem e semelhança” (Gen 1,26), Ele os quis “em família”. Por isso, a família é uma realidade sagrada. Jesus começou sua missão redentora da humanidade na Família de Nazaré. A primeira realidade humana que Ele quis resgatar foi a família; Ele não teve um pai natural aqui, mas quis ter um pai adotivo, quis ter uma família, e viveu nela trinta anos. Isso é muito significativo. Com a presença d’Ele na família – Ele sagrou todas as famílias.

Conta-nos São Lucas que após o encontro do Senhor no Templo, eles voltaram para Nazaré “e Ele lhes era submisso” (cf. Lc 2,51). A primeira lição que Jesus nos deixou na família é a de que os filhos devem obedecer aos pais, cumprindo bem o Quarto Mandamento da Lei. Assim se expressou o Papa João Paulo II:

“O Filho unigênito, consubstancial ao Pai, ‘Deus de Deus, Luz da Luz’, entrou na história dos homens através da família” (CF, 2).

Ao falar da família no plano de Deus, o Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz que ela é “vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai” (CIC, 2205). E na sua mensagem de Paz, do primeiro dia do Ano Novo (2008) o Papa Bento XVI deixou claro que sem a família não pode haver paz no mundo. E o Papa fez questão de ressaltar que família é somente aquela que surge da união de um homem com uma mulher, unidos para sempre, e não uma união homossexual que dá origem a uma falsa família.

“A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente da liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade” (CIC, 2207).

A Família de Nazaré sempre foi e sempre será o modelo para todas as famílias cristãs. Acima de tudo, vemos uma família que vive por Deus e para Deus; o seu projeto é fazer a vontade de Deus. A Sagrada Família é a escola das virtudes por meio da qual toda pessoa deve aprender e viver desde o lar.

Maria é a mulher docemente submissa a Deus e a José, inteiramente a serviço do Reino de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra” (Lc 1,38). A vontade dela é a vontade de Deus; o plano dela é o plano de Deus. Viveu toda a sua vida dedicada ao Menino Deus, depois ao Filho, Redentor dos homens, e, por fim, ao serviço da Igreja, a qual o Redentor instituiu para levar a salvação a todos os homens.
José era o pai e esposo fiel e trabalhador, homem “justo” (Mt 1, 19), homem santo, pronto a ouvir a voz de Deus e cumpri-la sem demora. Foi o defensor do Menino e da Mãe, os tesouros maiores de Deus na Terra. Com o trabalho humilde de carpinteiro deu sustento à Família de Deus, deixando-nos a lição fundamental da importância do trabalho, qualquer que seja este.

Em vez de escolher um pai letrado e erudito para Jesus, Deus escolheu um pai pobre, humilde, santo e trabalhador braçal. José foi o homem puro, que soube respeitar o voto perpétuo de virgindade de sua esposa, segundo os desígnios misteriosos de Deus.

A Família de Nazaré é para nós, hoje, mais do que nunca, modelo de unidade, amor e fidelidade. Mais do que nunca a família hoje está sendo destruída em sua identidade e em seus valores. Surge já uma “nova família” que nada tem a ver com a família de Deus e com a Família de Nazaré.

As mazelas de nossa sociedade –, especialmente as que se referem aos nossos jovens: crimes, roubos, assaltos, seqüestros, bebedeiras, drogas, homossexualismo, lesbianismo, enfim, os graves problemas morais e sociais que enfrentamos, – têm a sua razão mais profunda na desagregação familiar a que hoje assistimos, face à gravíssima decadência moral da sociedade.

Como será possível, num contexto de imoralidade, insegurança, ausência de pai ou mãe, garantir aos filhos as bases de uma personalidade firme e equilibrada e uma vida digna, com esperança?

Como será possível construir uma sociedade forte e sólida onde há milhares de “órfãos de pais vivos”? Fruto da permissividade moral e do relativismo religioso de nosso tempo, é enorme a porcentagem dos casais que se separam, destruindo as famílias e gerando toda sorte de sofrimento para os filhos. Muitos crescem sem o calor amoroso do pai e da mãe, carregando consigo essa carência afetiva para sempre.

A Família de Nazaré ensina ainda hoje que a família desses nossos tempos pós-modernos só poderá se reencontrar e salvar a sociedade se souber olhar para a Sagrada Família e copiar o seu modo de vida: serviçal, religioso, moral, trabalhador, simples, humilde, amoroso… Sem isso, não haverá verdadeira família e sociedade feliz.

Prof. Felipe Aquino
Canção Nova

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Uma interessante história de Natal

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O Natal é um momento tão importante para o mundo todo, que todas as pessoas que acreditam, e até aquelas que não acreditam em Jesus Cristo, são contagiadas pelos símbolos do Natal, pelo espírito de solidariedade, pela vontade de querer fazer o bem. Muitas pessoas deixam se levar pelo consumismo, contudo outras, muito além de fazer compras, acabam deixando de comprar para si para presentear os outros.

Mais do que sair pelas ruas e ver a cidade iluminada, as árvores enfeitadas, os sinos pendurados, velas acesas, presépios montados, estrelas, guirlandas, comidas típicas e papais-noéis, é preciso que entendamos o sentido de tudo isso que fazemos. Você já parou para pensar no sentido de cada “enfeite de natal” que tem em sua casa? Para tudo existe um motivo, uma razão, uma história; até para o Panetone.

O site Gaudium Press, divulgou hoje (18 de dezembro de 2012) um artigo contando sobre uma lenda italiana à respeito do panetone. Achamos muito interessante publicar aqui e compartilhar com vocês dessa bela história.

“Panetone

Era noite de Natal, em Milão, governada pelo Duque Ludovico Sforza, famoso por ter uma das mais requintadas cortes da época. Sobretudo sua cozinha era muito renomada. Desde a tarde, suas chaminés exalavam perfumes maravilhosos, que estimulavam o apetite de toda a vizinhança. Desejando fazer uma ceia inesquecível, o cozinheiro-mor decidira preparar uma sobremesa especial: um fabuloso doce cuja receita os venezianos haviam trazido do longínquo Oriente.

Afanava-se o mestre na elaboração de sua obra-prima e, ao mesmo tempo, orientava e fiscalizava os demais cozinheiros que se dedicavam a aprontar os inúmeros pratos do lauto banquete. Na grande cozinha, todos estavam tomados pela característica alegria do Natal italiano.

Todos não… Isolado num canto, um jovem ajudante recém-chegado da Lombardia suspirava de saudades da casa paterna, recordando-se das festas natalinas realizadas nos lares camponeses de sua região, pouco favorecidos de recursos econômicos, mas ricos de vida familiar e amor ao maravilhoso.

Levado por esses sentimentos nostálgicos, resolveu ele preparar um pão especial, como os que eram feitos por sua mãe na véspera de Natal. Não dispondo, porém, de todos os ingredientes necessários, teve de contentar-se com as sobras do material utilizado pelo cozinheiro-mor na elaboração da misteriosa sobremesa.

Qual seria o resultado? Nem ele mesmo sabia…

Uma vez iniciada a ceia de Natal, intensificou-se a atividade na cozinha, e o mestre cozinheiro esqueceu no forno o seu belo e misterioso doce… Enorme foi sua consternação ao constatar que ele havia queimado. Seu dourado sonho de um grande sucesso estava transformado na dura realidade de um vexatório fracasso, pois, como preparar em tão pouco tempo outra sobremesa especial? À vista desse desastre, não conseguiu conter algumas lágrimas.

Tomado de compaixão, o jovem lombardo aproximou-se dele e lhe ofereceu os três grandes bolos que acabava de tirar do forno. Num piscar de olhos, o experiente cozinheiro notou a elegância de sua forma cilíndrica e percebeu que seu delicioso perfume deveria corresponder a um requintado sabor.

Quem estava à mesa era o Duque Sforza com sua corte, ou seja, os mais exigentes comensais da Itália. Porém, não restava outra saída senão correr o risco. Tomou, pois, a decisão de servir como sobremesa aquela curiosa iguaria. Ele próprio se incumbiu de cortá-los caprichadamente em fatias e dispô-las de forma artística em bandejas de prata.

Surpreenderam-se o Duque e seus convivas, ao verem aquele exótico bolo enfeitado por frutas cristalizadas e do qual se desprendia um convidativo perfume. Instintivamente, começaram a aplaudir, e num instante seu requintado sabor lhes havia conquistado o paladar. Sucesso completo!

O Duque mandou vir à sua presença o autor daquela obra maravilhosa. Para surpresa de todos, não apareceu o afamado mestre, mas um tímido ajudante de cozinha.

- Qual é teu nome? – Eu me chamo Toni…

- Ora, então este é o Pane Toni! (o Pão do Toni).

Deste modo, o Duque Ludovico Sforza batizou aquele curioso pão doce com o nome de Toni, seu criador. E determinou-lhe que preparasse outros iguais, em maior quantidade, no Natal do ano seguinte. Assim nasceu o panetone, por obra do acaso, aliás, como tantas maravilhas da arte culinária.

Em pouco tempo, o “Pão do Toni” conquistou os lares italianos, e se espalhou pelo mundo inteiro, a ponto de ficar indissociavelmente ligado às festas natalinas.

(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2002, N. 12)”

Fonte: http://www.gaudiumpress.org/content/42747-Panetone

domingo, 21 de dezembro de 2014

O Rosário: a oração da família


O Rosário da Virgem Maria rezado em família é um precioso tesouro a ser descoberto pelos cristãos.
O Rosário a oração da família
Nossa Senhora do Rosário de Fátima


O Rosário da Santíssima Virgem Maria, especialmente rezado em família, é um precioso tesouro a ser descoberto por nós. Há muito tempo o Rosário é oração da família e pela família. Todavia, em outros tempos esta oração era particularmente amada pelas famílias cristãs e favorecia a sua união. Por isso, não podemos deixar perder-se esta preciosa herança deixada para nós pela Igreja, pelos nossos antepassados. Devemos voltar a rezar em família e pelas famílias, servindo-nos desta excelente forma de oração que é o Rosário. São João Paulo II nos encoraja a fazer o Rosário presente na vida ordinária das comunidades paroquiais, nas pastorais, nos grupos de oração1. Principalmente as pessoas que se dedicam à pastoral das famílias são chamadas a sugerir com convicção a recitação fervorosa do Santo Rosário. Pois, “a família que reza unida, permanece unida. O Santo Rosário, por antiga tradição, presta-se de modo particular a ser uma oração onde a família se encontra. Os seus diversos membros, precisamente ao fixarem o olhar em Jesus, recuperam também a capacidade de se olharem sempre de novo olhos nos olhos para comunicarem, solidarizarem-se, perdoarem-se mutuamente, recomeçarem com um pacto de amor renovado pelo Espírito de Deus”2.

Muitos dos problemas das nossas famílias, principalmente nos países mais ricos, tem como causa o fato da comunicação ser cada vez mais difícil. Hoje existem vários meios de comunicação e muitos tipos de aparelhos eletrônicos – televisores, rádios, computadores, telefones celulares, smartphones, tablets – mas a partilha e a convivência familiar estão cada vez mais difíceis. Não conseguimos estar juntos, e os raros momentos que temos para isso acabam infelizmente absorvidos pelas imagens da televisão, do computador ou do aparelho móvel. Neste contexto, “retomar a recitação do Rosário em família significa inserir na vida diária imagens bem diferentes – as do mistério que salva: a imagem do Redentor, a imagem de sua Mãe Santíssima. A família que reza unida o Rosário reproduz em certa medida o clima da casa de Nazaré: põe-se Jesus no centro, partilham-se com Ele alegrias e sofrimentos, colocam-se nas suas mãos necessidades e projetos, e d’Ele se recebe a esperança e a força para o caminho”3.

Na oração do Rosário em família, é bom e frutuoso também confiar o caminho de crescimento dos filhos. Pois, o Rosário é o itinerário da vida de Cristo, desde a sua concepção até à morte, ressurreição e glória. Em nossos dias torna-se cada vez mais difícil para os pais a tarefa de seguir os filhos nas várias etapas das suas vidas. Na sociedade da tecnologia avançada, dos meios de comunicação de massa e da globalização, tudo se tornou tão fácil e rápido, mas a distância cultural entre as gerações torna-se cada vez maior. Os apelos mais diversos e as experiências mais imprevisíveis cedo invadem a vida das crianças e adolescentes, e os pais sentem-se às vezes angustiados por causa dos riscos que seus filhos correm. Não é raro que os pais experimentem fortes desilusões, com a falência dos seus filhos diante da sedução das drogas, do fascínio da busca desenfreada pelo prazer, das tentações da violência, das expressões mais variadas de falta de sentido e de desespero.

Rezar o Rosário pelos filhos e com os filhos, educando-os desde a infância para este momento diário de “paragem orante” da família, certamente não é a solução de todos os problemas. Entretanto, a oração do Rosário é uma ajuda espiritual que não devemos desvalorizar. Podemos nos opor dizendo que o Rosário parece uma oração pouco adaptada ao gosto das crianças e dos jovens de hoje. Porém, podemos usar a nossa criatividade para tornar a oração do Rosário mais atrativa. Desde que seja preservada a sua estrutura fundamental, nada impede que a recitação do Rosário para crianças e jovens, tanto em família como nos grupos, seja enriquecida com atrativos simbólicos e práticos, que favoreçam a sua compreensão e valorização. Podemos usar banners, quadros, imagens, crucifixos, fazer oratórios com símbolos, montar presépios no Natal. Uma pastoral juvenil apaixonada e criativa – a exemplo das Jornadas Mundiais da Juventude – pode, com a ajuda de Deus, fazer coisas verdadeiramente significativas. Se o Rosário for bem apresentado, seguramente “os próprios jovens serão capazes de surpreender uma vez mais os adultos, assumindo esta oração e recitando-a com o entusiasmo típico da sua idade”4.

O Rosário é um tesouro que devemos redescobrir. Uma oração tão fácil e, ao mesmo tempo, tão rica merece verdadeiramente ser descoberta de novo pela comunidade cristã. Na oração do Rosário somos chamados a contemplar o rosto de Cristo na escola de Maria. Todos nós, especialmente as famílias cristãs, os doentes e os idosos, as crianças, os jovens e os adultos, somos convidados a redescobrir esta preciosa devoção: “retomai confiadamente nas mãos o terço do Rosário, fazendo a sua descoberta à luz da Escritura, em harmonia com a Liturgia, no contexto da vida quotidiana”5. Como fez o Papa João Paulo II, rezemos a oração final da célebre Súplica à Rainha do Santo Rosário do Beato Bartolo Longo, apóstolo do Rosário: “Ó Rosário bendito de Maria, doce cadeia que nos prende a Deus, vínculo de amor que nos une aos Anjos, torre de salvação contra os assaltos do inferno, porto seguro no naufrágio geral, não te deixaremos nunca mais. Serás o nosso conforto na hora da agonia. Seja para ti o último beijo da vida que se apaga. E a última palavra dos nossos lábios há de ser o vosso nome suave, ó Rainha do Rosário de Pompeia, ó nossa Mãe querida, ó Refúgio dos pecadores, ó Soberana consoladora dos tristes. Sede bendita em todo o lado, hoje e sempre, na Terra e no Céu”6. Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós!


1 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 41.


2 Idem, ibidem.


3 Idem, ibidem.


4 Idem, 42.


5 Idem, 43
6 Idem, ibidem.
Natalino Ueda é brasileiro, católico, missionário da Comunidade Canção Nova, formado em Filosofia e Teologia. Atualmente é produtor de conteúdo do portal cancaonova.com. Na consagração a Virgem Maria, segundo o Tratado de São Luís Maria, descobriu um caminho fácil, rápido, perfeito e seguro para chegar a Jesus Cristo. Desde então, ensina esta devoção, o caminho "a Jesus por Maria", que é o seu maior apostolado.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Natal, delicadeza de Deus!

2014-12-20 Rádio Vaticana
Belo Horizonte (RV)

O Natal se aproxima e, enquanto se vive, de diversos modos, o clima festivo dessa época do ano, é oportuno deixar ecoar nos corações o apelo convocatório de Santo Agostinho, lá no século quinto, em um de seus sermões: “Desperta, ó homem: por tua causa Deus se fez homem. Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá (Ef 5,14). Por tua causa, repito, Deus se fez homem. Estarias morto para sempre, se ele não tivesse nascido no tempo. Jamais te libertarias da carne do pecado, se ele não tivesse assumido uma carne semelhante à do pecado. Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a sua misericórdia. Não voltarias à vida, se ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se ele não te socorresse. Estarias perdido, se ele não viesse salvar-te. Celebremos com alegria a vinda da nossa salvação e redenção. Celebremos este dia de festa, em que o grande e eterno Dia, gerado pelo Dia grande e eterno, veio a este nosso dia temporal e tão breve.” Esse apelo essencial é vivamente oportuno no coração deste tempo.

Diante do desafio de se construir a paz universal, uma questão deve interpelar cada pessoa: existe outro fundamento maior e mais completo dessa paz que o amor revelado no Filho de Deus encarnado, Jesus Cristo? A celebração do Natal ultrapassa as luzes e cores não raramente presentes nas praças e casas. Alguns enfeites com tons mais chamativos, mas sem força para remeter ao núcleo central do Natal do Senhor: a manifestação mais plena e incontestável de amor. Acolhido no mais íntimo do coração, esse amor reconcilia cada um com Deus e consigo mesmo, renova as relações entre as pessoas e gera uma indispensável sede de fraternidade, único remédio para se vencer a guerra e acabar com o flagelo amedrontador da violência.

O Natal é a festa do amor e da reconciliação. O presépio, na sua singeleza com força educativa, quando surge no atual contexto - marcado pelas estratégias, armações, cálculos e disputas pelo poder - remete-nos à simplicidade como caminho para descobrir o segredo de saber viver. Não apenas pela indiscutível singeleza da manjedoura, fora da cidade, entre os animais. Acima de tudo, pelo desconcerto que se experimenta ao contemplá-lo, quando se constata que a entrada de Deus no mundo, o Filho encarnado, ocorre sem apego algum à condição divina. O presépio, portanto, é remédio para o orgulho e a altivez.

A encarnação do Verbo de Deus, Jesus Cristo, a festa do Natal, é o antídoto que combate, na raiz, o sofrimento. Desmobiliza a lógica da prepotência, alimentada pelo desejo de dominar e explorar os outros, por ideologias de poder e ódios que se perpetuam entre pessoas, grupos, partidos, tribos, culturas e nações. O verdadeiro sentido do Natal está na contramão desses descompassos que alimentam incontáveis cenários e impedem avanços. Há um silabário da justiça e uma gramática da paz cuja aprendizagem não tem escola mais adequada e eficiente do que aquela em que Ele, Cristo, é o mestre. Seus ensinamentos, pela força pedagógica de sua proximidade - Natal é festa da proximidade de Deus - não se reduz e não se traduz em qualquer tipo de manifestação, mesmo as que contêm elementos religiosos.

O desvirtuamento que se vê impetrado sobre o sentido do Natal pelo consumismo não é menor do que aquele advindo de equivocadas expressões, dinâmicas e práticas religiosas. São casas de culto que buscam apropriar-se do Natal sem priorizar a construção das bases da personalidade e da cultura a partir do que há de mais autêntico nas raízes cristãs. Silenciosamente, esses desvirtuamentos comerciais e culturais estão produzindo uma séria crise que atinge a beleza do cristianismo e a sua contribuição incalculável para a paz.

Ainda é tempo de cuidar para não se perder experiências de fé que produziram heranças inestimáveis, são bases de culturas e caminho para construir um mundo melhor. Ecoe mais uma vez a indicação de Santo Agostinho: “Como veio a paz à terra senão por ter a verdade brotado da terra, isto é, Cristo ter nascido em carne humana? Ele é a nossa paz: de dois povos fez um só, para que fôssemos homens de boa vontade, unidos uns aos outros pelo suave vínculo da caridade.” Nessa compreensão e vivência se poderá, copiosamente, celebrar o Natal, delicadeza de Deus.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

(from Vatican Radio)

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A Imaculada Conceição de Maria e a luta contra o mal


A Virgem Maria, desde a sua Imaculada Conceição, está no centro de nossa luta contra os poderes espirituais do mal.
Nossa Senhora da Imaculada Conceição

A Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria não a afasta de nós, mas coloca-a no centro da nossa luta espiritual contra os poderes do mal, contra Satanás, o Inimigo de Deus. Esta inimizade entre a Mulher e a Serpente se faz presente na história da humanidade desde o início, logo depois do pecado de Eva e Adão: “Porei inimizade entre ti [a Serpente] e a Mulher”1. A primitiva Serpente do Paraíso cresce juntamente com o mal na humanidade e torna-se o grande Dragão vermelho do Apocalipse, que faz guerra à descendência de Maria: “Este [o Dragão] se irritou contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os mandamentos e tem o testemunho de Jesus”2. Nesta guerra contra os principados e as potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra os poderes do mal espalhados nos ares3, não estamos sozinhos. Nossa Senhora coloca-se entre nós e o Demônio, no centro da nossa batalha contra os poderes das trevas.

Na Imaculada Conceição de Maria, o pecado é superado, e a amizade com Deus, restabelecida. Em Nossa Senhora realizou-se a reconciliação de Deus com a humanidade. Todavia, Maria foi preservada do pecado original, por isso não teve necessidade de ser reconciliar-se com Deus, e viveu sempre em concórdia com Deus. Maria viveu, desde o primeiro instante de sua existência, em perfeita amizade com Deus, por isso a inimizade entre a Serpente e a Mulher se expressa mais perfeitamente em Maria, a Nova Eva. Entretanto, esta inimizade não diz respeito apenas a Virgem Maria, mas também a toda a humanidade e a cada um de nós em particular4. A história da salvação da humanidade é marcada por “uma luta árdua entre o poder das trevas, posto em marcha desde o princípio do mundo, e que continuará, como nos diz o Senhor, até ao último dia”5.

Esta inimizade, anunciada no início do livro do Gênesis, é confirmada no livro do Apocalipse, sob o sinal da “Mulher vestida de sol”6. Maria, Mãe do Verbo Encarnado, está no centro dessa inimizade7 da Mulher e sua descendência8, que somos nós, contra a Serpente. Esta inimizade entre a Mulher e a Serpente existe, em primeiro lugar, por sua Imaculada Conceição. Nela acontece a vitória completa da Graça divina sobre o pecado e o Demônio. Por isso, a Santíssima Virgem é amiga e aliada perfeita de Deus e inimiga do Diabo. A Virgem de Nazaré foi completamente retirada do domínio de Satanás na sua concepção imaculada, foi plasmada pelo Espírito Santo e preservada de toda mancha do pecado original. Mas, esta inimizade existe também por causa do papel de Maria na obra da redenção, da sua colaboração ativa na luta final de seu Filho para destruir as forças do Maligno. Associada inteiramente na obra salvífica do Filho de Deus, a Virgem Maria foi plenamente envolvida nesta luta contra os poderes do mal9.

Nossa Senhora está no centro da nossa inimizade contra Satanás. Isso significa que a sua Imaculada Conceição não a separou de nós, que recebemos a herança do pecado original de nossos primeiros pais. Ao contrário, Maria está no centro desse combate espiritual que travamos, desta inimizade entre o “Príncipe das trevas” e a Mulher, entre o “Pai da Mentira” e a descendência de Maria10, que somos nós. Nas palavras do livro do Gênesis, nós vemos a Imaculada Conceição na realidade de sua eleição por parte de Deus. Vemos também a Virgem das Dores no momento culminante desta inimizade com a Satanás, aos pés da Cruz de Cristo, no Calvário11. Naquele momento do mistério da redenção, juntamente com seu Filho, a Mãe da Igreja esmaga a cabeça da Serpente e esta investe contra o seu calcanhar12.

Assim, uma vez que a Virgem Maria esteve tão intimamente unida a seu Filho no mistério da salvação, esmagando a cabeça da serpente, ela continua envolvida neste combate espiritual até o fim dos tempos, sustentando-nos em nossas batalhas cotidianas para vencer o mal e o pecado. Por isso, “devemos considerá-la como amparo seguro na luta contra as potências do mal, como luz fulgidíssima de verdade, como motivo invencível de esperança e de alegria. Maria fala-nos de uma vitória total sobre o mal, pela qual, ao colocarmo-nos no seu seguimento – e por isso no seguimento de Cristo – podemos esperar ser totalmente purificados do pecado e tornar-nos, também nós, ‘santos’ e ‘imaculados’”13. Nossa Senhora da Imaculada Conceição, rogai por nós!


Fonte: FIDELIS STÖCKL. O mistério da Imaculada Conceição no Pensamento de Papa João Paulo II.

Referências:
1 Gn 3,15.
2 Ap 12, 17.
3 Cf. Ef 6, 12.
4 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Audiência de 7 de dezembro de 1983, 12.
5 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 37.
6 Ap 12,1
7 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, 11.
8 Cf. Ap 12, 1-17.
9 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Audiência de 24 de janeiro de 1996, 12.
10 Cf. Gn 3, 15.
11 Cf. Jo 19, 25.
12 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Homilia de 8 de dezembro de 1985, 3.
13 Idem. Angelus de 8 de dezembro de 1989, 4.


Texto de Natalino Ueda: brasileiro, católico, missionário da Comunidade Canção Nova, formado em Filosofia e Teologia. Atualmente é produtor de conteúdo do portal cancaonova.com. Na consagração a Virgem Maria, segundo o Tratado de São Luís Maria, descobriu um caminho fácil, rápido, perfeito e seguro para chegar a Jesus Cristo. Desde então, ensina esta devoção, o caminho "a Jesus por Maria", que é o seu maior apostolado.

Fonte Canção Nova

domingo, 14 de dezembro de 2014

Nossa Senhora de Guadalupe e seu abraço de Mãe


Recebamos o abraço materno de Nossa Senhora de Guadalupe, a Padroeira das Américas.


Nossa Senhora de Guadalupe e São João Paulo II

Nas aparições de Nossa Senhora de Guadalupe, recebemos o abraço da Mãe de Deus, o seu amor e cuidado por cada um de nós, seus filhos. Estas aparições aconteceram no México, em 1531, quando os colonizadores espanhóis já tinham aprendido a língua indígena local. Porém, a fé católica se espalhava lentamente naquelas terras, principalmente por causa dos rituais astecas, ainda muito enraizados na cultura e na religião dos índios mexicanos. Neste contexto histórico, no qual aconteciam até mesmo sacrifícios humanos, Nossa Senhora apresenta-se como a Sempre Virgem Maria, Mãe de Deus Vivo, ao índio Juan Diego. Este já era convertido e muito devoto da Santíssima Virgem. Ao piedoso indígena, que a Virgem Maria chamou de “o mais humilde de meus filhos”1, ela apareceu para mostrar seu amor materno para aquele povo e ser auxílio para a missão da Igreja.

A Mãe de Deus pediu que fosse construído um templo no monte Tepeyac, onde apareceu a Juan, para expressar nele seu amor e cuidado maternos para com o Povo de Deus, especialmente para os mexicanos. Para convencer o índio, a Virgem Maria disse: “Eu desejo que um templo seja construído aqui, rapidamente; então, Eu poderei mostrar todo o meu amor, compaixão, socorro e proteção, porque Eu sou vossa piedosa Mãe e de todos os habitantes desta terra e de todos os outros que me amam, invocam e confiam em mim. Ouço todos os seus lamentos e remedio todas as suas misérias, aflições e dores”2. Depois de dizer do seu amor e cuidado para com o povo, Nossa Senhora explicou o que ele deveria fazer: “E para realizar o que a minha clemência pretende, vá ao palácio do Bispo do México e lhe diga que Eu manifesto o meu grande desejo, que aqui neste lugar seja construído um templo para mim”3. Obediente, o piedoso jovem foi ao Bispo e transmitiu o desejo da Santíssima Virgem.

A princípio, o Bispo não acreditou nas palavras de Juan Diego, que quase desistiu da missão que lhe fora confiada. Porém, a Virgem Maria insistiu que ele conversasse novamente com o Prelado e que lhe daria um sinal. Este foi a sua própria imagem, impressa num tecido muito frágil, chamado tilma, um verdadeiro milagre, ainda hoje estudado por cientistas, que não conseguem explicar a sua origem. A imagem de Nossa Senhora de Guadalupe foi e continua a ser expressão da presença e do cuidado maternos de Maria na Igreja. Como naquele tempo, a Mãe de Deus continua solícita para com os nossos sofrimentos e dificuldades. Por isso, a celebração da festa de Nossa Senhora de Guadalupe é um convite para renovarmos o amor e a confiança para com ela.

Hoje, somos convidados a confiar a Virgem de Guadalupe o cuidado das Américas, das quais ela é a padroeira. Confiemos a ela especialmente o nosso país, que vive um novo paganismo, semelhante ao da época das aparições. Pois, hoje crianças são mortas nos ventres de suas mães, pessoas sofrem violência e são assassinadas todos os dias, as famílias tradicionais são perseguidas. Vivemos ainda outros tipos de idolatria, como o individualismo, o capitalismo, o comunismo, o materialismo, a busca desenfreada pelo prazer, a cultura de morte. Todos estes, como muitos costumes da época das aparições, são contra a vontade de Deus e as leis da Igreja. Diante desses e tantos outros desafios que vivemos hoje, não tenhamos medo de nos confiar inteiramente a Santa Maria de Guadalupe, como pediu ela a Juan Diego, que estava aflito com a doença de seu tio: “Escuta-Me e entenda bem, meu caçula, nada deve amedrontar ou afligir você. Não deixe seu coração perturbado. Não tema esta ou qualquer outra enfermidade, ou angústia. Eu não estou aqui? Quem é sua Mãe? Você não está debaixo de minha proteção? Eu não sou sua saúde? Você não está feliz com o meu abraço? O que mais pode querer? Não tema nem se perturbe com qualquer outra coisa. Não se aflija por esta enfermidade de seu tio, por causa disso, ele não morrerá agora. Tenha certeza de que ele já está curado”4. Conforme sua promessa, seu tio não só foi curado de sua enfermidade, mas também foi agraciado com a aparição da Virgem de Guadalupe. Confiemos que Nossa Senhora também cuida de nós com seu amor materno.

Assim, mais do que apenas um milagre, “a aparição da imagem da Virgem na tilma [manto] de Juan Diego foi o sinal profético de um abraço, o abraço de Maria a todos os habitantes das vastas terras americanas, a quantos já estavam ali e aos que teriam chegado depois. Este abraço de Maria indicou a senda que sempre caracterizou a América”5. Esta é uma terra generosa, onde podem conviver povos diversos, de várias cores, raças e nações; que é capaz de respeitar a vida humana em todas as suas fases, desde o ventre materno até à velhice; e que é capaz de acolher os emigrantes, os povos, os pobres e os marginalizados de todos os tempos. “Esta é a mensagem de Nossa Senhora de Guadalupe, e esta é também a minha mensagem, a mensagem da Igreja”6, disse Papa Francisco. Acolhendo esta mensagem da Mãe de Deus, do Santo Padre e da Igreja, somos chamados a ter a coragem de manter os braços abertos para acolher o próximo, como fez a Virgem Maria, que nos abraça com amor e ternura. Sempre Virgem Santa Maria de Guadalupe, rogai por nós!

Oração do Santo Padre à Nossa Senhora de Guadalupe

“Ó Virgem Imaculada, Mãe do verdadeiro Deus e Mãe da Igreja!

Vós, que, deste lugar, manifestais a vossa clemência e a vossa compaixão

por todos os que imploram o vosso amparo:

ouvi a oração que com filial confiança Vos dirigimos

e apresentai-a ao vosso Filho Jesus, único Redentor nosso.

Mãe de misericórdia, Mestra do sacrifício escondido e silencioso,

a Vós, que vindes ao encontro de nós todos, pecadores,

consagramos, neste dia, todo o nosso ser e todo o nosso amor.

Consagramo-Vos também a nossa vida, os nossos trabalhos, as nossas alegrias,

as nossas doenças e os nossos sofrimentos.

Dai a paz, a justiça e a prosperidade aos nossos povos,

já que tudo o que nós temos e o que somos

o deixamos ao vosso cuidado, Mãe e Senhora nossa.

Queremos ser totalmente vossos e convosco desejamos percorrer

o caminho de uma fidelidade plena a Jesus Cristo na sua Igreja:

não nos deixeis desprender da vossa mão amorosa.

Virgem de Guadalupe, Mãe das Américas, pedimo-Vos por todos os Bispos,

a fim de que eles conduzam os fiéis por veredas de intensa vida cristã,

de amor e de humilde serviço a Deus e às almas.

Contemplai esta seara imensa e intercedei por que o Senhor infunda fome de santidade

em todo o Povo de Deus e conceda abundantes vocações de sacerdotes e religiosos

fortes na fé e zelosos dispensadores dos mistérios de Deus.

Concedei aos nossos lares a graça de amarem e respeitarem a vida nascente,

com o mesmo amor com que Vós em vosso seio concebestes a vida do Filho de Deus.

Virgem Santa Maria, Mãe do Amor Formoso, protegei as nossas famílias,

para que elas estejam sempre muito unidas, e abençoai a educação dos nossos filhos.

Esperança nossa, olhai-nos com compaixão, ensinai-nos a ir continuamente para Jesus

e, se cairmos, ajudai-nos a levantarmo-nos e a voltarmos para Ele,

mediante a confissão das nossas culpas e dos nossos pecados

no sacramento da Penitência que traz sossego à alma.

Suplicamo-Vos que nos concedais um amor muito grande a todos os santos Sacramentos

que são como que as marcas que o vosso Filho nos deixou na terra.

Assim, nossa Mãe Santíssima, com a paz de Deus na consciência,

com os nossos corações livres do mal e de ódios, poderemos levar a todos

a alegria verdadeira e a verdadeira paz, as quais vêm do Vosso Filho,

Nosso Senhor Jesus Cristo que, com Deus Pai e com o Espírito Santo,

vive e reina pelos séculos dos séculos. Ámen”7.

Referências:


1 SANCTA. Nossa Senhora de Guadalupe: As Aparições e o Milagre.


2 Idem.


3 Idem.


4 Idem.


5 PAPA FRANCISCO. Audiência Geral de 11 de Dezembro de 2013.


6 Idem.


7 PAPA JOÃO PAULO II. Oração do Santo Padre à Nossa Senhora de Guadalupe.

Autor do texto: Natalino Ueda é brasileiro, católico, missionário da Comunidade Canção Nova, formado em Filosofia e Teologia. Atualmente é produtor de conteúdo do portal cancaonova.com. Na consagração a Virgem Maria, segundo o Tratado de São Luís Maria, descobriu um caminho fácil, rápido, perfeito e seguro para chegar a Jesus Cristo. Desde então, ensina esta devoção, o caminho "a Jesus por Maria", que é o seu maior apostolado.

Fonte Canção Nova

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe

2014-12-12 Rádio Vaticana


Tem lugar no final da tarde desta sexta-feira dia 12 uma celebração eucarística na Basílica de S. Pedro por ocasião da Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina. O Papa Francisco preside a esta celebração confiando à intercessão de Nossa Senhora a evangelização e a promoção humana dos povos do continente americano na paz, justiça e unidade.

A celebração é animada pelos cantos da Misa Criolla do compositor argentino Ariel Ramírez, cuja execução será dirigida pelo filho, Facundo Ramírez, com o seu grupo musical argentino. Participa na animação musical desta celebração também a cantora argentina Patricia Sosa e o coro romano Musica Nuova.

A Misa Criolla, da qual estamos já a ouvir alguns acordes, é uma tentativa de síntese entre a música sacra, popular e folclórica: remonta a 1963, quando o compositor argentino Ariel Ramírez, fascinado pela música dos gaúchos e dos crioulos, tentou conciliar o sentimento religioso com o elemento folclórico e comunicar a alegria de rezar de uma cultura específica.

A Misa criolla é composta por solistas, coro e orquestra e é caracterizada por instrumentos típicos da tradição popular latino-americana. No Kyrie são utilizados os ritmos crioulos da vidala e da baguala; o Glória, que estamos a ouvir, expressa a alegria utilizando a vivacidade do ritmo carnavalito introduzido por um solo de charango. No Credo, a linha melódica, que se apoia no popular ritmo andino da chacarera trunca, assume um caráter mais dramático. Para o Sanctus, recorre-se aos ritmos bolivianos do Carnaval de Cochabamba, antes de voltar para a pampa argentina para o Agnus Dei final.

Funcionários e deputados integram uma grande delegação argentina que participa da celebração na Basílica de S. Pedro, no Vaticano. Espera-se também grande participação de membros do corpo diplomático dos países do continente, sacerdotes e religiosos latino-americanos que trabalham e estudam em Roma, assim como de imigrantes que moram na capital italiana.

Não é a primeira vez que um Papa celebra esta Festa no Vaticano de modo especial: em 12 de dezembro de 2011, Bento XVI também comemorou esta solenidade litúrgica com uma celebração eucarística na Basílica Vaticana.




(from Vatican Radio)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria



Das Meditações de Santo Anselmo, bispo

O céu, as estrelas, a terra, os rios, o dia e a noite, e tudo quanto está sujeito ao poder ou ao serviço dos homens se alegram, Senhora, porque, tendo perdido a sua antiga nobreza, foram em certo modo ressuscitados por meio de Ti e dotados de uma graça nova e inefável. [...]

Deus entregou a Maria o seu próprio Filho, o seu Filho Unigénito, igual a Si, a quem amava de todo o coração como a Si mesmo. No seio de Maria, Deus formou o Filho, não distinto, mas o mesmo, para que realmente fosse um e o mesmo o Filho de Deus e de Maria. Tudo o que nasce é criatura de Deus, e Deus nasce de Maria. Deus criou todas as coisas, e Maria gerou a Deus. Deus, que criou todas as coisas, fez-Se a Si mesmo por meio de Maria. E deste modo refez tudo o que tinha feito. Ele, que pôde fazer todas as coisas do nada, não quis refazer sem Maria o que tinha sido arruinado.

Por esta razão, Deus é o Pai das coisas criadas, e Maria a mãe das coisas recriadas. Deus é o Pai a quem se deve a constituição do mundo, e Maria a mãe a quem se deve a sua restauração. Pois Deus gerou Aquele por quem tudo foi feito, e Maria deu à luz Aquele por quem tudo foi salvo. Deus gerou Aquele fora do qual nada existe, e Maria deu à luz Aquele sem o qual nada subsiste. Verdadeiramente o Senhor está contigo, pois quis que toda a criatura reconhecesse que deve a Ti, com Ele, tão grande benefício.

(Oratio 52: PL 158, 955-956) (Sec. XII)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Como iniciar uma vida de oração



Uma das maiores dificuldades de quem faz o propósito de iniciar uma vida de oração é a perseverança

Começar não é fácil, e persistir na decisão é ainda mais difícil. Todas as decisões na vida necessitam de disciplina, caso contrário, estão condenadas ao fracasso. Na vida de oração não é diferente. A mesma requer: disciplina, perseverança e fidelidade.



O primeiro passo é adquirirmos a consciência da importância da oração em nossa vida espiritual. Sem uma vida orante, nossa alma desfalece. E quando isso ocorre, perdemos-nos, em primeiro lugar, de nós mesmos. Em segundo lugar, perdemo-nos de nossos irmãos e irmãs. E em terceiro lugar, de Deus.

Deus permanece fiel ao nosso lado. Nós, contudo, nos afastamos dele e de Sua presença. E uma vez afastados, peregrinamos sem rumo. Não sabemos para onde caminhamos nem qual a direção correta para os nossos passos. Uma vida de oração fecunda nos devolve ao porto seguro de nossa caminhada espiritual: o próprio Deus.

Adquirida essa consciência da importância da oração na vida espiritual, seguimos para o segundo passo: a decisão de orarmos. Esse passo é também difícil. No início, vão surgir mil e uma coisas mais importantes a serem feitas. A decisão requer coragem para avaliar quais são as verdadeiras prioridades para nosso bem estar espiritual. Muitas demandas da vida diária, que antes não eram tão importantes, surgiram como necessitadas de prioridades urgentes para o momento presente. Diante desses conflitos humano-espirituais será preciso parar, olhar com calma a realidade presente e decidir o que é mais importante para a alma naquele momento.

Uma vez decididos a dedicar um momento do dia à vida de oração, seguimos para o próximo passo: a escolha do tempo de oração. Para quem nunca cultivou uma vida assim, é preciso prudência e discernimento. No momento do impulso, poderão surgir decisões precipitadas. Muitos começam sua vida de oração com um hora diária e, depois de 5 dias, estão desesperados e não conseguem ficar nem mais um minuto em oração. É preciso equilíbrio quando o assunto é tempo. Não adianta começar uma rotina de oração com uma hora se ainda não está acostumado a rezar nem vinte e cinco minutos sozinho. Um bom tempo para se reservar, neste primeiro momento, é vinte minutos diários de oração. Antes vinte minutos bem rezados que uma hora de eterno desespero.

Comece com vinte minutos diários e, com o tempo, se sentir necessidade, aumente gradativamente este período. No entanto, este processo tem de ser realizado com muita calma e tranquilidade, respeitando seu ritmo interior e seu progresso espiritual.



Padre Flávio Sobreiro

Padre Flávio Sobreiro Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG. Página pessoal: http://www.padreflaviosobreiro.com Facebook:http://www.facebook.com/flaviosobreiro

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A Imaculada Conceição e a superabundância da graça



A superabundância da graça realizou-se plenamente na Imaculada Conceição da Virgem Maria.


Imaculada Conceição

As palavras de São Paulo na carta aos Romanos: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”1, dizem respeito especialmente ao mistério da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria. Nesse sublime mistério, contemplamos os mais excelentes frutos da divina misericórdia numa criatura humana. Se no princípio da criação, no coração de uma mulher – a virgem Eva – o pecado abundou2; na plenitude dos tempos, no coração de outra mulher – a Virgem Maria – superabundou a graça divina3. A graça que a humanidade recebeu por Maria é muito mais abundante do que o mal causado pelo pecado dos nossos primeiros pais. Em Nossa Senhora, mais do que em qualquer outra criatura, a graça triunfa sobre o pecado4 e a morte.

Na Imaculada Conceição de Maria, a redenção de Jesus Cristo manifesta a sua força salvífica preveniente, por antecipação, e permanente5. A concepção imaculada da Mãe de Deus é a maior vitória do mistério pascal de Cristo, “o fruto mais excelente do germe de vida eterna que Deus […] lançou no coração da humanidade, necessitada de salvação depois do pecado de Adão”6. A Virgem Maria experimentou o mistério da redenção de modo especialíssimo, o que manifesta a singular a generosidade de Deus com a humanidade, com cada um de nós. O Filho de Deus foi especialmente generoso com sua Mãe Santíssima. Jesus Cristo remiu a Virgem Maria antecipadamente, de modo particularmente superabundante, da mancha do pecado original. Em Jesus, a Redenção é abundante7 e a generosidade do Filho para com sua Mãe manifesta-se desde o princípio da sua existência no milagre da Imaculada Conceição8. Em consequência, o dogma da Imaculada Conceição de Maria não obscurece, ao contrário, contribui admiravelmente para ressaltar os extraordinários efeitos da graça redentora de Cristo na natureza humana9.

A redenção realizada por Cristo não significa apenas libertação, ou preservação, do pecado, que é a graça salvífica, mas também a semente da santidade, da graça santificante, plantada pelo Redentor em nossos corações10. A Virgem de Nazaré foi preservada da herança do pecado original em virtude da plenitude da graça recebida de Jesus e pelos méritos do seu Filho no mistério da redenção. Maria pertence a Cristo desde o primeiro instante da sua concepção imaculada, participa da graça salvífica e santificante e daquele amor que tem o seu início no mistério da Encarnação. “O fruto maduro da redenção é a santidade”11, que se manifestou extraordinariamente na Imaculada. Em Nossa Senhora, o efeito da Redenção manifestou-se na sua pureza total e na florescência maravilhosa da sua santidade. Dessa forma, a Imaculada Conceição de Maria é a primeira maravilha da redenção realizada pelo seu Filho12, que diz respeito a toda a humanidade. A superabundante graça na Mãe de Deus desde a sua concepção imaculada faz dela dispensadora privilegiada dos efeitos do mistério da redenção.

A história da Igreja comprova que a Virgem Maria é um veículo excelente e único da redenção de Cristo. A Mãe de Deus é um canal privilegiadíssimo da graça divina, uma via de eleição pela qual a graça chega a nós com abundância extraordinária e maravilhosa. Onde Nossa Senhora é invocada, a graça é abundante, acontece a cura em nosso corpo e em nosso espírito13. A este respeito, nos vêm ao pensamento os grandes santuários marianos: Lourdes, na França; Fátima, em Portugal; Guadalupe, no México; Aparecida, no Brasil. Nestes e em muitos outros, a Virgem Maria manifesta-se como canal excelente e privilegiadíssimo da graça de Deus. Nestes santuários dedicados a Santíssima Virgem, milhares de peregrinos experimentam a superabundância da graça divina nos numerosíssimos milagres, curas, conversões, sinais e prodígios. Tais prodígios manifestam a maravilhosa eficácia da intercessão de Maria, Medianeira de Todas as Graças.

Assim, se vivermos em intimidade com Nossa Senhora, encontraremos “no mistério da sua Imaculada Conceição uma inexaurível fonte de conversão, amadurecimento e santificação”14. Isto significa que a Virgem Maria não é somente modelo de perfeição, de santidade, mas também é fonte superabundante da graça salvífica e santificante. Temos na Mãe da Igreja o auxílio necessário da graça para alcançar a santidade e a salvação, que nos foi dada em seu Filho Jesus Cristo. Por isso, invoquemos com confiança a Virgem Maria, para obtermos dela a superabundância da graça, que se manifestou primeiramente na sua concepção imaculada.

Oração do Papa João Paulo II a Imaculada Conceição:

Nós nos dirigimos a Vós, Virgem Santa Imaculada.

Em Vós tem início o mistério da Redenção que nos livra da morte,

porque a herança do pecado não Vos atingiu.

Vós sois cheia de graça, e em Vós abre-se para nós o Reino de Deus,

o novo futuro do homem, que pode, na fé, contemplar em Vós a obra da sua renovação

e o fundamento da sua esperança de imortalidade.

Trazei a nós, na vossa pureza, o Filho de Deus, a “luz que veio ao mundo”,

e conduzi todos nós pelos caminhos de santidade,

para que possamos encontrar Cristo, agora e para sempre. Amém15.




Fonte: FIDELIS STÖCKL. O mistério da Imaculada Conceição no Pensamento de Papa João Paulo II.

Referências:


1 Rm 5, 20.


2 Cf. Gn 3, 16.


3 Cf. Lc 1, 26.


4 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Homilia de 8 de dezembro de 1987.


5 Cf. idem, Angelus de 8 de dezembro de 1993.


6 Idem, Regina Coeli de 17 de abril de 1983.


7 Cf. Sl 129, 7.


8 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Angelus de 8 de dezembro de 1978.


9 Idem. Audiência de 5 de junho de 1996.


10 Cf. idem. Carta Encíclica Redemptoris Mater, 10.


11 Idem, ibidem.


12 Cf. idem. Audiência de 7 de dezembro de 1983.


13 Cf. idem. Angelus de 19 de julho de 1987.


14 Idem. Alocução às Irmãs Servas de Maria Imaculada em 6 de julho de 1999.


15 Idem, Homilia de 2 de novembro de 1986.


Natalino Ueda é brasileiro, católico, missionário da Comunidade Canção Nova, formado em Filosofia e Teologia. Atualmente é produtor de conteúdo do portal cancaonova.com. Na consagração a Virgem Maria, segundo o Tratado de São Luís Maria, descobriu um caminho fácil, rápido, perfeito e seguro para chegar a Jesus Cristo. Desde então, ensina esta devoção, o caminho "a Jesus por Maria", que é o seu maior apostolado.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Reflexão para a Solenidade da Imaculada

2014-12-08 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

A primeira leitura da liturgia de hoje, Gênesis 3, versículos de 9 a 15 é o chamado proto-evangelho porque nos fala, ainda que de um modo remoto e impreciso, da salvação, da atuação do Messias.
Deus oferece ao homem sua amizade, mas ele prefere escutar a serpente, prefere dar vasão ao desejo de autossuficiência. Com essa atitude de se colocar como centro, o homem prejudica seu relacionamento com as demais pessoas, com a natureza e com Deus.

Como a rejeição a Deus é automaticamente rejeição à Vida e à felicidade sem fim, o homem atraiu sobre si e sobre a natureza a maldição, abrindo as portas ao sofrimento e à morte.

Contudo Deus é Pai, é Vida e não pode permitir o triunfo da morte, a danação de suas criaturas, especialmente do homem, criado à sua imagem e semelhança. Exatamente no momento da rejeição do símbolo da autossuficiência, Deus anuncia a vitória da descendência humana sobre o pecado, é a vitória de Cristo em sua Paixão, quando se descentraliza para estar totalmente voltado para o Pai, para a Vida, não fazendo a sua vontade, mas a de Seu Pai.

Adão e Eva estão nús, isto é, estão sem a proteção de Deus, colocando suas esperanças apenas em sua autossuficiência. Maria é saudada pelo anjo como a cheia de graça e a plena de Deus, de Vida. Ela se descentralizou ao dizer que era a Serva do Senhor e permitindo que se fizesse nela a palavra do anjo.

Por um privilégio concedido por Deus, Maria foi a única exceção humana a não dar sua adesão ao pecado. Ela foi a obra-prima da graça de Deus, perfeita em sua adesão livre à missão dada pelo Pai e geradora não apenas do Messias, mas origem da própria Igreja. O prefácio da missa a chama de “primícias da Igreja”.

Celebrando sua Imaculada Conceição, celebramos sua total pertença a Deus.

A segunda leitura, extraída da Carta de São Paulo aos Efésios, fala do projeto de Deus a nosso respeito, de nossa vocação, de nossa destinação. Do mesmo modo que Maria, fomos redimidos pelo sangue de Jesus e destinados à felicidade sem fim.

Cada um de nós é criado por Deus para ter uma missão neste mundo, missão unida à Cristo, como foi a de Maria. Ela, concebida sem o pecado das origens, foi toda um sim ao Pai e, por isso, gerou o Filho, plena do Espírito Santo. Também nós, redimidos por Jesus Cristo, poderemos colaborar com o Pai em seu projeto grandioso para com cada ser humano, permitindo que o Espírito Santo conduza nossa vida. Não é para um projeto próprio, fadado ao insucesso, que fomos convocados, mas a um projeto feito por Deus, onde a fraternidade e a obediência ao Amor são as leis máximas.


(Padre Cesar Augusto dos Santos, sj)
(from Vatican Radio)

domingo, 7 de dezembro de 2014

Você é uma bolha de sabão?

O encanto frágil nos traz a desilusão de uma realidade que não existe no mundo real de nossas experiências humanas

Belas e encantadoras são as bolhas de sabão. Elas fascinam pela beleza multicolorida em contato com o sol, mas essa beleza não dura mais que alguns segundos. Um piscar de olhos e elas já não existem mais. Encerram seu ciclo tão rápido quanto surgiram, vão-se como chegaram, não têm história para contar.



Vivemos em tempos de bolhas de sabão. Somos seduzidos pelas aparências e nos deixamos levar pela beleza transitória de algo que não dura mais que alguns momentos. Muitas vezes, nos perdemos correndo em busca do vazio contido dentro de uma bolha de sabão que nos promete a felicidade rápida. Iludidos pelas aparências, nos perdemos de nós mesmos e também de Deus. Iludidos pelas lindas bolhas de sabão que surgem em nosso caminho, corremos o risco de cair e tropeçar nas pedras ao longo da jornada.

Quando olhamos para a beleza efêmera das aparências, ficamos fixados naquilo que nos encanta, mas que não produz em nosso coração sabedoria. O encanto frágil nos traz a desilusão de uma realidade que não existe no mundo real de nossas experiências humanas.

Quando a bolha estoura, nada mais nos resta do que olharmos para a vida e nela buscarmos a beleza autêntica do cotidiano, com todas as suas dores e alegrias, que não são levadas pelo vento.

Muitos têm se tornado bolhas de sabão: vivem alimentando na alma uma existência despovoada de sentido, perderam-se dos valores que poderiam lhes proporcionar a autêntica felicidade. Criaram para si um mundo de bolhas de sabão, acreditaram naquilo que as impede de contemplar o amor real e concreto da vida. Alimentam a alma de espaços que nunca poderão ser preenchidos sem uma genuína experiência do amor de Deus.

Quando aqueles que viviam imersos em fantasias ilusórias acerca de Deus procuravam Jesus, tentando justificar suas fantasias, Ele mostrava com amor e paciência que aquelas ilusões não poderiam durar mais que um olhar de amor eterno. O carinho de Cristo imprimia em cada alma a realidade de uma existência pautada no amor incondicional de Deus por Seus filhos amados. Um amor real desfaz as ilusões da alma.

É preciso viver com os pés no chão e olhar para a transcendência do presente com admiração; assim, fazer do hoje a mais atraente experiência da ternura de Deus. Correr atrás daquilo que é superficial apenas aumenta no coração a lacuna de um amor construído em aparências ilusórias.

As bolhas de sabão são lindas, mas quando vistas apenas como uma brincadeira de criança. Não busquemos na vida concreta bolhas de sabão para nossas carências e vazios interiores.Busquemos a beleza de sermos amados por Deus e nos deixarmos amar por Ele.

Padre Flávio Sobreiro

Padre Flávio Sobreiro Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG. Página pessoal: http://www.padreflaviosobreiro.com Facebook:http://www.facebook.com/flaviosobreiro

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A “teologia do corpo” de S. João Paulo II – o testemunho do casal Sofia e Pedro

2014-12-04 Rádio Vaticana
Dos muitos contributos que S. João Paulo II deixou à Igreja e à humanidade está seguramente a sua “ teologia do corpo” que permitiu redescobrir um olhar contemplativo do corpo através do imenso tesouro da antropologia bíblica e da tradição da Igreja. Um livro recentemente publicado com o título “Criados para o Amor” da autoria de Carl Anderson e José Granados recolhe as catequeses do Papa João Paulo II entre 1979 e 1984 sobre este tema esclarecendo os seus fundamentos antropológicos com uma linguagem simples e acessível. Nesta edição de “Sal da Terra, Luz do Mundo apresentamos o testemunho de um casal sobre a teologia do corpo.
Segundo o livro “Criados para o Amor” a teologia do corpo proposta por S. João Paulo II apresenta o “profetismo do corpo” afirmando que “o corpo fala de Deus revela a sua bondade e a sua sabedoria”. Os autores Carl Anderson e José Granados, professores  da secção dos Estados Unidos do Instituto Pontifício João Paulo II para o Estudo do Matrimónio e da Família, afirmam neste livro que o Papa João Paulo II nas suas catequeses de 1979 a1984 sublinha a “vocação para amar” do homem e da mulher.
Nessas catequeses que este livro recolhe podemos compreender que através do corpo Deus revela-nos “o caminho a percorrer no sentido da realização da humanidade: o caminho do amor, no qual a imagem original impressa no homem e na mulher se pode realizar e resplandecer numa fértil comunhão de pessoas abertas à vida”.
Muitos são os casais e famílias que encontram inspiração na teologia do corpo para viver o mistério de Deus nas suas vidas. Nas Jornadas Nacionais da Família em Portugal em setembro deste ano de 2014, encontramos em Fátima o casal Sofia e Pedro que apresentaram para a Rádio Vaticano o seu testemunho de vida. Este casal da diocese de Setúbal começou por nos contar o início da sua história revelado num amor à primeira vista. O olhar e o sorriso foram a primeira formulação de um amor que despontava.
5 anos de namoro, 12 anos de matrimónio e 3 filhos: o Tiago, o André e o Tomás. Uma história de amor para contar. Uma relação alicerçada num compromisso para o futuro.
A Sofia e o Pedro descobriram a teologia do corpo como um método de conhecimento para o amor. O corpo como manifestação de Deus e caminho para a conversão. O amor conjugal como dom de Deus.
“Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa. (RS)

(from Vatican Radio)