domingo, 27 de dezembro de 2015

Guardar tudo no coração - 27.12.2015

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Lorenzo Lotto

Ao chegar a Belém, tendo encontrado Maria e José e o menino deitado na manjedoura, como lhes havia anunciado o anjo, os pastores não se contiveram e contaram detalhes da experiência que haviam tido naquela noite. “Todos os que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam”. Também para Maria foi uma experiência extraordinária. Como compreender tudo? Como assimilar? Só havia uma maneira de não perder os inúmeros sinais que Deus lhe havia dado em tão poucas horas: guardar tudo no coração para meditar posteriormente, juntando, então, as peças daquele divino quebra-cabeças.

Se as palavras dos pastores a surpreenderam, o que dizer da experiência que estava vivendo interiormente, e que ninguém via? Como, nessa hora, não se lembrar de Abraão? Para fazer a vontade de Deus, havia caminhado na fé, numa longa noite escura, pois levava seu filho para o sacrifício, o filho único, que garantiria o cumprimento das promessas de Deus. Ela, também sem compreender, devia aceitar o mistério que a envolvia e esperar, no abandono confiante, que com o passar do tempo nascesse uma luz sobre tudo o que estava vendo, ouvindo e guardando no coração. O título de “Memória da Igreja”, que um dia receberia, seria bem merecido.

Estava diante de uma criança que era sua: a havia gerado, deveria cuidar dela, educá-la e envolvê-la com seu amor. Mas, por outro lado, precisava reconhecer que, mesmo fazendo tudo isso, não podia dizer que o menino era seu. O anjo Gabriel, na anunciação, havia sido claro: “Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim”. Portanto, se alguém tinha direitos sobre o filho que contemplava, e do qual já se diziam coisas surpreendentes, esse alguém era o Pai. Começava, pois, a compreender que a resposta que dera nove meses antes — “Eis aqui a serva do Senhor” — precisava ser repetida, acima de tudo para convencer-se de que vivia uma situação marcada pelo mistério. Quando interrogado pelo filho sobre como oferecer um sacrifício ao Senhor, já que faltava o cordeiro, Abraão lhe respondeu, confiante: “Deus providenciará!”. Como será que seu Filho e Filho do Pai eterno reinará para sempre, nascendo aqui, pobre, numa gruta? Será acolhido? “Deus providenciará!”. Descobria, aos poucos, que Deus só lhe pedia viver intensamente aquele momento, colocar-se à disposição de seus planos e guardar tudo no coração. Do resto, ele próprio cuidaria.
Do livro: 'Um mês com Maria', Paulinas Editora.

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