A Ave-Maria muito agrada Nossa Senhora, pois por esta oração renovamos a alegria que ela sentiu quando o Anjo lhe anunciou que fora eleita para ser Mãe de Deus1. Por isso, na intenção de renovar a alegria da Anunciação no coração da Virgem de Nazaré, devemos saudá-la muitas vezes com a Ave-Maria. “Saudai-a com a Ave-Maria, diz Tomás de Kempis, porque ela gosta muito dessa saudação. Que não lhe podemos dirigir saudação mais agradável, do que com a Ave-Maria, disse-o a Virgem a Santa Matilde”2. Se saudamos a Mãe do Senhor com a Ave-Maria, seremos também saudados por ela e receberemos dela uma nova graça. Pois, como atestam os santos, é impossível que Nossa Senhora recuse uma graça a quem se aproxima dela com a Ave-Maria. “A Santa Gertrudes prometeu a Mãe de Deus tantos auxílios na hora da morte, quantas Ave-Marias lhe tivesse recitado em vida. Alano de Rupe afirma que, ao ouvir essa saudação angélica, alegra-se o Céu, treme o Inferno e foge o Demônio. Com feito, atesta-o Tomás de Kempis, pois com uma Ave-Maria pôs em fuga o Demônio que lhe aparecera”3. Mas, como praticar com fruto a piedosa devoção da Ave-Maria?
A prática de oração da Ave-Maria pode dar-se de várias formas, conforme os ensinamentos dos santos e do Magistério da Igreja. Podemos rezar de manhã e de noite, ao levantar-nos e antes de nos deitar, “três Ave-Marias, ajuntando depois de cada uma a pequena jaculatória: por vossa pura e imaculada Conceição, ó Maria, purificai meu corpo e santificai minha alma”4. Depois, devemos pedir a bênção a Nossa Senhora, conforme fazia sempre Santo Estanislau, pondo-nos sob o seu manto, pedindo que naquele dia ou naquela noite ela nos livre de todo o pecado. Para favorecer esta prática de oração, é recomendável que tenhamos diante de nós uma bela imagem da Virgem Maria.
Outra forma de praticar a devoção da Ave-Maria é a oração mariana do Ângelus, ou Anjo do Senhor, com as tradicionais três Ave-Marias, pela manhã, ao meio-dia e à noite. A oração do Ângelus foi indulgenciada pela primeira vez pelo Papa João XXII, em 1328, e depois por Bento XIII, em 1724. “Outrora, ao som das Ave-Marias, todos se ajoelhavam para rezar o Anjo do Senhor. São Carlos Borromeu não se acanhava de descer da carruagem, para recitá-lo de joelhos na rua, mesmo na lama muitas vezes”5. Até os nossos dias, o Ângelus permanece uma prática muito cara na Igreja, especialmente àquelas almas mais devotas da Virgem Maria.
Podemos também saudar a Mãe de Deus com a Ave-Maria a cada hora, como fazia Santo Afonso Rodríguez ao soar o relógio e quando era acordado pelos anjos para saudar Nossa Senhora. Outro modo de praticar esta devoção é saudá-la com a Ave-Maria ao sair de casa e ao entrar nela, para que a Virgem Maria nos livre, dentro e fora dela, de todo pecado. Podemos rezar a Ave-Maria sempre que passamos por uma imagem da Mãe de Jesus. Nesse sentido, se pudermos, é bom colocar uma bela imagem da Virgem Maria na parede, do lado de fora de nossa casa ou no jardim, para que as pessoas que passam pela rua possam venerá-la e rezar a saudação angélica. Podemos ainda começar e terminar cada hora do Ofício Divino com a recitação da Ave-Maria.
Ouça aula do Padre Paulo Ricardo sobre “A oração da ‘Ave Maria’”:
A sudação angélica tem sua expressão mais profunda na Oração do Rosário da Virgem Maria. A Ave-Maria é o elemento mais encorpado do Santo Rosário, o que faz dele uma oração mariana por excelência. Entretanto, à luz da própria Ave-Maria, nota-se claramente que seu carácter mariano, que não se opõe ao cristológico e até o sublinha e exalta. “A primeira parte da Ave-Maria, tirada das palavras dirigidas a Maria pelo Anjo Gabriel6 e por Santa Isabel7, é contemplação adoradora do mistério (de Cristo) que se realiza na Virgem de Nazaré”8. Estas palavras exprimem a admiração do Céu e da Terra e deixam transparecer o encanto do próprio Deus ao contemplar a sua obra-prima – a encarnação do Filho do Altíssimo no ventre da Virgem Maria – daquele mesmo olhar contente do Criador no livro do Gênesis9, daquele primordialpathos10 com que Deus, na aurora da criação, contemplou a obra das suas mãos. “A repetição da Ave-Maria no Rosário sintoniza-nos com este encanto de Deus: é júbilo, admiração, reconhecimento do maior milagre da história”11. A Ave-Maria, especialmente recitada no Rosário, é o cumprimento da profecia da Virgem de Nazaré: “Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão Bem-aventurada”12.
Portanto, a Ave-Maria é uma oração muita querida por Nossa Senhora, que podemos rezar em vários momentos de nosso dia, para agradar o seu coração de Mãe. É bom rezar a Ave-Maria ao começar e terminar as nossas ações, quer sejam elas espirituais, como a oração, a confissão, a comunhão, a leitura espiritual, a pregação da Palavra de Deus; ou temporais, como o estudo, o trabalho, o aconselhamento, a refeição, o descanso. “Felizes as ações praticadas entre duas Ave-Marias! Saudemos a Virgem com essa oração, ao despertar pela manhã, ao fechar os olhos para dormir”13. Invoquemos a Mãe da Igreja com a Ave-Maria em todas as tentações, em todos os perigos, em todos os sofrimentos, em todas as necessidades. Pratiquemos esta devoção e veremos os seus abundantes e abençoados frutos. Rezemos todos os dias três Ave-Marias em honra ao poder, à sabedoria e à bondade da Santíssima Virgem. Recitemos dez Ave-Marias para honrar suas dez virtudes. Nossa Senhora da Anunciação, rogai por nós!
Referências:
1 Cf. Lc 1, 28-33.
2 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Glórias de Maria. 3ª ed. Aparecida: Santuário, 1989, p. 443.
3 Idem, p. 444.
4 Idem, ibidem.
5 Idem, p. 445.
6 Cf. Lc 1, 28.
7 Cf. Lc 1, 42.
9 Cf. Gn 1, 31.
10 Pathos: palavra grega, que aqui significa a paixão com a qual Deus olhou quando terminou a obra da criação.
11 RVM 33.
12 Lc 1, 48
13 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Op. cit., p. 445.
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