A virgindade perpétua de Maria e a sua maternidade espiritual sobre toda a Igreja.
Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus Cristo, foi sempre Virgem? Santo Agostinho ensina que a perfeita e perpétua virgindade de Maria é um privilégio em honra à Mãe e à dignidade do Filho. Em seus escritos, não se cansava de dizer que “Maria concebeu Cristo, virgem; deu-O à luz virgem; e virgem permaneceu”1. Mas responder essa questão se torna um grande desafio se temos a consciência de que a virgindade dela não é simplesmente um estado ou privilégio, mas um mistério de Cristo, não significa apenas o estado virginal da Mãe do Senhor, mas também, e principalmente, a concepção de Jesus em seu seio. Por isso a pureza de Maria pertence ao mistério de Cristo. A este respeito, Santo Inácio de Antioquia nos ensina que “a virgindade é a forma por meio da qual Maria pertence a Cristo”2.
No pensamento de Santo Agostinho, a pureza de Maria foi tão santa e agradável a Deus, não porque a concepção de Cristo a preservou, impedindo que fosse violada, mas porque, antes mesmo de conceber, “ela já a tinha consagrado a Deus e merecido, assim, ser escolhida para trazer Cristo ao mundo”3. Por isso, Maria perguntou ao Anjo da Anunciação: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?”4. Certamente, ela não teria dito isso se anteriormente não houvesse consagrado sua castidade a Deus. Nossa Senhora fez essa consagração antes de saber que seria a Mãe do Filho do Altíssimo5. Desse modo, ela já nos ensinava a “imitação da vida no Céu, em um corpo terrestre e mortal, em virtude de um voto e não de um preceito; e realizando-o por opção toda de amor, não por necessidade de obedecer”6.
A Igreja, à semelhança de Maria, é uma virgem desposada a um único Esposo, que é Jesus Cristo. Dessa forma, a Igreja toma como modelo a Mãe de seu Esposo e Senhor. “Pois, a Igreja, também ela, é mãe e virgem”7. Nossa Senhora deu à luz corporalmente a Cabeça do Corpo místico de Cristo, e a Igreja dá à luz espiritualmente os membros desse Corpo. Dessa forma, tanto em Maria quanto na Igreja, a virgindade não impede a fecundidade. Na Virgem Maria e na virgem Igreja, a fecundidade não destrói a castidade, pois a pureza da Igreja, semelhante à de Maria, está na integridade da fé, da esperança e da caridade. Estava no desígnio divino fazer germinar a virgindade no coração da Igreja, por isso, Cristo antecipou-a no corpo de Maria. A castidade de Maria e da Igreja estão intimamente ligadas ao Senhor Jesus. Consequentemente, “a Igreja não poderia ser virgem, se não tivesse por Esposo o Filho da Virgem, a quem se entrega”8.
A fé de nossos irmãos protestantes na divindade de “Jesus Cristo, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria”, é a mesma “fé da Igreja antiga, expressa em todas as suas liturgias que dão a Maria o título de ‘sempre virgem’, reconhecida com unanimidade pelas igrejas locais antes da ruptura do século XVI, reconhecida igualmente pelos primeiros reformadores”9. Contudo, com o passar do tempo, a mariologia dos protestantes distanciou-se bastante daquela dos primeiros reformadores. Isto se reflete nas atuais controvérsias bíblicas, por parte de alguns protestantes, sobre os irmãos de Jesus10, que põe em dúvida a virgindade perpétua da Mãe do Senhor. Ao contrário do que alguns pregam hoje, “os reformadores haviam compreendido o termo irmãos (adelphoi) no sentido de primos e pregaram com nuança sobre a virgindade perpétua de Maria”11.
Portanto, mais do que estado e privilégio, a virgindade perpétua de Nossa Senhora se insere no mistério de Cristo. A virgindade de Maria aponta para a sua entrega total ao desígnio de Deus e para a sua maternidade espiritual sobre toda a Igreja. Nesse sentido, a Virgem Mãe da Igreja é modelo para todos que consagram suas vidas a Jesus Cristo e ao anúncio do Evangelho. Pois, como a Mãe de Jesus, temos a vocação de virgem e mãe, pois a Igreja também é virgem e mãe. Em Maria, temos o modelo, por excelência, da virgindade e da maternidade que todos os cristãos, especialmente aqueles que livremente se consagram pelo voto de celibato, são chamados a exercer. Com Maria, aprendemos que a virgindade pura significa a integridade da fé, da esperança e da caridade, à qual todos nós somos chamados. Com ela, também aprendemos aquela maternidade espiritual que gera os verdadeiros irmãos de Cristo: aqueles que fazem a vontade do Seu Pai, que está nos céus12.
Nossa Senhora, Mãe da Igreja, rogai por nós!
1. SANTO AGOSTINHO. A Virgem Maria: cem textos marianos com comentários. São Paulo: Paulus, 1996, p. 11.
2. GARCIA PAREDES, Jose Cristo Rey. Mariologia. 3ª ed. Madrid: BAC, 2009, Cf. Inácio de Antioquia, Ephs, 19,1: PG 5,660A; SC 10,88.
3. SANTO AGOSTINHO. Op. cit., p. 52.
4. Lc 1, 34.
5.Cf. Lc 1, 31-32.
6. SANTO AGOSTINHO. Op. cit., p. 52.
7. Idem, p. 49.
8. Idem, p. 93.
9. Idem, p. 161.
10. Cf. Mt 12, 46-50; cf. Mc 3, 31-35; cf. Lc 8, 19-21.
11. Idem, p. 127. Na língua hebraica do original bíblico a palavra irmãos, traduzida em grego por adelphoi, significa todos os primos e parentes.
12. Cf. Mt 12, 50.
Fonte Canção Nova
Natalino Ueda
Missionário da comunidade Canção Nova, desde 2005 cursou Filosofia e Teologia, atua no portal cancaonova.com como produtor de conteúdo é autor do blog Todo de Maria. blog.cancaonova.com/tododemaria
Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus Cristo, foi sempre Virgem? Santo Agostinho ensina que a perfeita e perpétua virgindade de Maria é um privilégio em honra à Mãe e à dignidade do Filho. Em seus escritos, não se cansava de dizer que “Maria concebeu Cristo, virgem; deu-O à luz virgem; e virgem permaneceu”1. Mas responder essa questão se torna um grande desafio se temos a consciência de que a virgindade dela não é simplesmente um estado ou privilégio, mas um mistério de Cristo, não significa apenas o estado virginal da Mãe do Senhor, mas também, e principalmente, a concepção de Jesus em seu seio. Por isso a pureza de Maria pertence ao mistério de Cristo. A este respeito, Santo Inácio de Antioquia nos ensina que “a virgindade é a forma por meio da qual Maria pertence a Cristo”2.
No pensamento de Santo Agostinho, a pureza de Maria foi tão santa e agradável a Deus, não porque a concepção de Cristo a preservou, impedindo que fosse violada, mas porque, antes mesmo de conceber, “ela já a tinha consagrado a Deus e merecido, assim, ser escolhida para trazer Cristo ao mundo”3. Por isso, Maria perguntou ao Anjo da Anunciação: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?”4. Certamente, ela não teria dito isso se anteriormente não houvesse consagrado sua castidade a Deus. Nossa Senhora fez essa consagração antes de saber que seria a Mãe do Filho do Altíssimo5. Desse modo, ela já nos ensinava a “imitação da vida no Céu, em um corpo terrestre e mortal, em virtude de um voto e não de um preceito; e realizando-o por opção toda de amor, não por necessidade de obedecer”6.
A Igreja, à semelhança de Maria, é uma virgem desposada a um único Esposo, que é Jesus Cristo. Dessa forma, a Igreja toma como modelo a Mãe de seu Esposo e Senhor. “Pois, a Igreja, também ela, é mãe e virgem”7. Nossa Senhora deu à luz corporalmente a Cabeça do Corpo místico de Cristo, e a Igreja dá à luz espiritualmente os membros desse Corpo. Dessa forma, tanto em Maria quanto na Igreja, a virgindade não impede a fecundidade. Na Virgem Maria e na virgem Igreja, a fecundidade não destrói a castidade, pois a pureza da Igreja, semelhante à de Maria, está na integridade da fé, da esperança e da caridade. Estava no desígnio divino fazer germinar a virgindade no coração da Igreja, por isso, Cristo antecipou-a no corpo de Maria. A castidade de Maria e da Igreja estão intimamente ligadas ao Senhor Jesus. Consequentemente, “a Igreja não poderia ser virgem, se não tivesse por Esposo o Filho da Virgem, a quem se entrega”8.
A fé de nossos irmãos protestantes na divindade de “Jesus Cristo, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria”, é a mesma “fé da Igreja antiga, expressa em todas as suas liturgias que dão a Maria o título de ‘sempre virgem’, reconhecida com unanimidade pelas igrejas locais antes da ruptura do século XVI, reconhecida igualmente pelos primeiros reformadores”9. Contudo, com o passar do tempo, a mariologia dos protestantes distanciou-se bastante daquela dos primeiros reformadores. Isto se reflete nas atuais controvérsias bíblicas, por parte de alguns protestantes, sobre os irmãos de Jesus10, que põe em dúvida a virgindade perpétua da Mãe do Senhor. Ao contrário do que alguns pregam hoje, “os reformadores haviam compreendido o termo irmãos (adelphoi) no sentido de primos e pregaram com nuança sobre a virgindade perpétua de Maria”11.
Portanto, mais do que estado e privilégio, a virgindade perpétua de Nossa Senhora se insere no mistério de Cristo. A virgindade de Maria aponta para a sua entrega total ao desígnio de Deus e para a sua maternidade espiritual sobre toda a Igreja. Nesse sentido, a Virgem Mãe da Igreja é modelo para todos que consagram suas vidas a Jesus Cristo e ao anúncio do Evangelho. Pois, como a Mãe de Jesus, temos a vocação de virgem e mãe, pois a Igreja também é virgem e mãe. Em Maria, temos o modelo, por excelência, da virgindade e da maternidade que todos os cristãos, especialmente aqueles que livremente se consagram pelo voto de celibato, são chamados a exercer. Com Maria, aprendemos que a virgindade pura significa a integridade da fé, da esperança e da caridade, à qual todos nós somos chamados. Com ela, também aprendemos aquela maternidade espiritual que gera os verdadeiros irmãos de Cristo: aqueles que fazem a vontade do Seu Pai, que está nos céus12.
Nossa Senhora, Mãe da Igreja, rogai por nós!
1. SANTO AGOSTINHO. A Virgem Maria: cem textos marianos com comentários. São Paulo: Paulus, 1996, p. 11.
2. GARCIA PAREDES, Jose Cristo Rey. Mariologia. 3ª ed. Madrid: BAC, 2009, Cf. Inácio de Antioquia, Ephs, 19,1: PG 5,660A; SC 10,88.
3. SANTO AGOSTINHO. Op. cit., p. 52.
4. Lc 1, 34.
5.Cf. Lc 1, 31-32.
6. SANTO AGOSTINHO. Op. cit., p. 52.
7. Idem, p. 49.
8. Idem, p. 93.
9. Idem, p. 161.
10. Cf. Mt 12, 46-50; cf. Mc 3, 31-35; cf. Lc 8, 19-21.
11. Idem, p. 127. Na língua hebraica do original bíblico a palavra irmãos, traduzida em grego por adelphoi, significa todos os primos e parentes.
12. Cf. Mt 12, 50.
Fonte Canção Nova
Natalino Ueda
Missionário da comunidade Canção Nova, desde 2005 cursou Filosofia e Teologia, atua no portal cancaonova.com como produtor de conteúdo é autor do blog Todo de Maria. blog.cancaonova.com/tododemaria
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